Beata Ana de São Bartolomeu
Memória a 7 de Junho
Recordamos hoje uma das primeiras carmelitas descalças, grande amiga de Santa Teresa, e sua enfermeira até à morte. Nasceu em Almendral, aldeia de Ávila, no ano 1549. Quando tinha apenas dez anos, morreram seus pais, ficando ao cuidado dos irmãos que lhe deram o ofício de pastora, confiando-lhe o rebanho para guardar. Não se preocuparam os irmãos em ensiná-la a ler e escrever. Porém, na sua Autobiografia, esta bem-aventurada Carmelita conta-nos que nas longas horas que passava na guarda do rebanho, vinha o Menino Jesus ensiná-la a compreender os mistérios da vida e da fé. Ana sentiu-se, na sua juventude, atacada por uma doença que quase a vitimou. Encomendou-se a S. Bartolomeu e recobrou saúde. Entrou no convento de S. José de Ávila e tomou o nome de Ana de S. Bartolomeu. Aqui conheceu nosso pai S. João da Cruz que, juntamente com Santa Teresa de Jesus, lhe ensinaram o espírito carmelita. Na noite de Natal de 1577, partiu Santa Teresa um braço. A partir de então, a Irmã Ana foi presença constante e companheira inseparável da Santa Madre, nos braços de quem Santa Teresa viria a morrer. Foi neste período, com vinte e oito anos, que a Irmã Ana aprendeu a ler e a escrever, imitando a letra da Santa, a fim de se tornar na secretária particular da Madre Fundadora e também sua confidente, sendo, por isso, a pessoa que melhor conheceu Santa Teresa. Foi escolhida para integrar a primeira comunidade que fundou o Carmelo em França, no ano de 1604. Foi seu grande sofrimento, desde o primeiro dia, não poder ter junto de si os carmelitas. Quando estes, anos mais tarde, chegaram a França elegeram-na como fundadora do Carmelo na Bélgica, onde chegou no ano de 1612, fundando em Antuérpia. Os príncipes e os senhores belgas estimavam a Irmã Ana como santa. A infanta Dª Isabel afirmava: «Antuérpia nada deve recear, pois a Irmã Ana de S. Bartolomeu é a nossa defesa, melhor que qualquer exército». Assim era. Por três vezes, Maurício de Nassau tentou tomar a cidade sem o ter conseguido. Por isso, o povo, reconhecido, chamava à Irmã Ana «Defensora de Antuérpia». Morreu em Antuérpia, no dia 7 de Junho de 1626, Solenidade da Santíssima Trindade. A cidade ainda hoje mantém viva a memória desta grande Carmelita. |
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Oração |
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Senhor, grandeza dos humildes, que quisestes fazer brilhar a bem-aventurada Ana de S. Bartolomeu pela sua caridade e paciência, concedei-nos, por sua intercessão, seguir a Cristo e amar os irmãos para podermos viver segundo os vossos desígnios. |
Beata Elias de São Clemente
Memória Facultativa a 29 de Maio
Terceira filha de Giuseppe Fracasso e Pasqua Cianci, a nova Beata nasceu no dia 17 de Janeiro de 1901, em Bari (Itália), e foi baptizada com o nome de Teodora.
A sua família mantinha-se graças ao trabalho do pai, mestre pintor e decorador de edifícios. Considerados excelentes cristãos, os pais de Teodora representavam para ela e para os seus quatro irmãos um seguro ponto de referência no seu crescimento humano e espiritual. Quando tinha cerca de cinco anos de idade, Teodora afirmou ter visto em sonho uma linda “Senhora” que passeava num campo coberto de lírios floridos e em seguida desapareceu num feixe de luz. Depois da sua mãe lhe ter explicado o possível significado da visão, a criança prometeu que quando crescesse se tornaria monja. Além disso, na véspera da sua primeira Comunhão, sonhou que Santa Teresa do Menino Jesus lhe predizia: “Serás monja como eu”. Entrou na Associação da Beata Imelda Lambertini, Dominicana de acentuada piedade eucarística, e depois na “Milícia Angélica” de S. Tomás de Aquino, reunindo-se periodicamente com as amigas para meditar e rezar, ler o Evangelho, a “Imitação de Cristo”, as vidas dos santos e em particular a autobiografia de Santa Teresinha. Em 1914 foi introduzida na Terceira Ordem Dominicana como noviça, com o nome de Inês, e fez a profissão no ano seguinte, depois de ter recebido uma dispensa especial, por causa da sua jovem idade. Ampliou infinitamente o seu campo de apostolado, de catequese e de assistência, dando livre espaço ao seu profundo desejo de fazer o bem ao próximo; contudo, o seu coração aspirava por uma vida de clausura. Assim, sabiamente orientada pelo seu confessor, preparou-se com uma profunda espiritualidade para dar o novo passo e, em 1920, vestiu o hábito carmelita escolhendo o nome de Irmã Elias de São Clemente. No ano seguinte emitiu os votos simples seguindo, a exemplo de Santa Teresa do Menino Jesus, o “pequeno caminho da infância espiritual onde me sentia chamada pelo Senhor”. Fez a profissão solene em 1925. Em Janeiro de 1927 teve uma forte gripe que muito a debilitou, provocando-lhe dores de cabeça intensas e frequentes, que contudo suportava com grande abnegação. A Irmã Elias sofreu deste mal durante o ano inteiro e, na vigília de Natal, recebeu a visita de um médico, que só pôde constatar a irreversibilidade das suas condições de saúde (meningite e encefalice). A nova Beata faleceu ao meio-dia de 25 de Dezembro, entrando no Céu como tinha previsto: “Morrerei num dia de festa”. A jovem Carmelita deixou em todos uma lembrança nostálgica, mas também um grande ensinamento: é necessário caminhar com alegria rumo ao Paraíso, porque este é o “Ponto Ómega” de todo aquele que crê. |
Beata Maria da Encarnação
Viúva e Carmelita Descalça
A beata Maria da Encarnação é considerada a “mãe e fundadora do Carmelo na França”, porque ela ajudou a espalhar por toda a França a reforma carmelita de Santa Teresa de Ávila. Nasceu em Paris, a 01 de fevereiro de 1566 e recebeu o nome de Bárbara Avrillot, filha do senhor de Champlatreux, Nicolau Avrillot.Naquela época a nobreza costumava confiar a educação de meninas ou adolescentes a congregações religiosas femininas. Bárbara, ainda nova, foi confiada às Irmãs Menores de Nossa Senhora da Humildade, residentes em Longchamp. Retornou à sua família aos 14 anos. O desejo de ser religiosa não foi autorizado pela sua família. Aos 16 anos foi obrigada a casar com o visconde de Villemor, Pedro Acarie, homem de moral irrepreensível, dando início à sua vida de esposa e mãe, tendo seis filhos.Deu um exemplo singular de virtude cristã, de vida de oração e de contemplação, cumprindo fielmente os mandamentos e a vontade de Deus no seu lar, como mãe e esposa, cumprindo todos os deveres cristãos e religiosos, vivendo santamente em sua própria casa, tratando com respeito e caridade os seus funcionários, dando provas de como os casais cristãos podem santificar a sua vida. Foi uma filha dedicada da Igreja e participou da ação de oposição contra a heresia protestante que procurava se estender na França.Carmelo PontoiseTrabalhou ativamente para ajudar os necessitados, especialmente no cerco de Paris, em 1590, com a intervenção militar dos espanhóis, no reinado de Henrique IV. Por essa época, Deus a favoreceu com extraordinárias graças místicas, que foram acompanhadas por lutas exteriores e interiores.Após a derrota da Liga, à qual o seu marido pertencia, Bárbara viu o rei Henrique IV bani-lo de Paris. Essa ingratidão do rei feriu-lhe o coração, mas graça à sua fé em Deus, ela lutou para assegurar que o seu marido fosse reabilitado. Essa luta durou quatro anos, porém, no final desse período, sua família recuperou a honra e as propriedades foram devolvidas.A beata Maria da Encarnação conheceu são Francisco de Sales, que a apreciava muito e a tinha em grande conta, foi o seu confessor e diretor espiritual. Em 1601, leu os escritos de Santa Teresa de Jesus e passou a desejar, determinadamente, fazer todo o possível para apresentar a reforma do Carmelo na França. Em 1602, surgiram as primeiras vocações. Ela obteve permissão do rei, e, em 1603, o papa Clemente VIII autorizou a primeira fundação que rapidamente foi concretizada.Da Espanha, em 29 de agosto de 1604, vieram seis carmelitas descalças, incluindo a futura beata Ana de São Bartolomeu e a futura venerável serva de Deus Ana de Jesus. Em 17 de outubro do mesmo ano, em Paris, deu-se início ao modo de vida teresiano no mosteiro recém-construído.Bárbara Avrillot teve a felicidade de ver entrar no Carmelo as suas três filhas e viu a Ordem expandir-se também para Pontoise, Dijon e Amiens, entre 1605 a 1606. Em 1613, o seu marido Pedro ficou gravemente doente e morreu nove dias depois, na paz dos justos, assistido pela santa esposa e confortado por uma confirmação celeste de sua salvação eterna.Livre de qualquer obrigação do mundo, entrou no Carmelo de Amiens como uma simples “irmã conversa” (equivalente quase a uma “serva das irmãs”), A 7 de abril de 1614, recebeu o hábito teresiano, de véu branco, com o nome de Maria da Encarnação. Ela viveu sua vida de reclusão, com humildade, trabalhando na cozinha e auxiliando as irmãs doentes.Sofreu especialmente com o modo áspero com o qual era tratada por uma nova priora advinda de outro Carmelo. Tinha muitos êxtases e visões que a confortaram na sua longa doença. Sofrendo más condições de saúde, foi transferida para o Carmelo de Pontoise em 07 de dezembro de 1616. Após longa e dolorosa doença, entregou sua bela alma a Deus no dia 18 de abril de 1618, aos 52 anos. O seu corpo repousa na capela do mesmo convento.Algumas vicissitudes ligadas aos sucessivos decretos do Papa Urbano VIII tornaram suspenso o processo de beatificação. O mesmo foi retomado em 1782 e terminou com a cerimónia celebrada pelo Papa Pio VI em 1791.A sua memória litúrgica celebra-se a 18 de abril. |
Beata Maria de Jesus
Memória a 12 de Setembro
A Bem-aventurada Irmã Maria de Jesus foi amiga e discipula fiel de Santa Teresa de Jesus. Nasceu em 1560, aos 4 anos de idade ficou orfã de pai, gravando no seu coração estas últimas palavras do seu pai moribundo: «Filha, Deus será o teu pai». Esta carmelita honrava-se de levar o nome da Virgem Maria, a quem tinha muita devoção e de quem parece ter ouvido dizer um dia: «Quero-te para filha». Na adolescência, foi pretendida por muitos rapazes para esposa, o que a levou a entregar-se durante muito tempo às vaidades e futilidades próprias da juventude. Um dia, pensou ouvir uma voz que lhe dizia: «Quero-te para carmelita descalça». Como não tinha ainda ouvido falar das carmelitas descalças teve que perguntar ao seu confessor, que então lhe falou da família fundada por Santa Teresa e S. João da Cruz. Entrou no Carmelo de Toledo, onde tomou o hábito de Nossa Senhora do Carmo. Começado o noviciado, caiu doente. Devido a esta doença, as Irmãs não lhe queriam dar a profissão, mas, Santa Teresa, que não conhecia a noviça, escreveu à comunidade para que a deixassem professar. Tomou o nome de Maria de Jesus. Quando a Santa Madre chegou a Toledo e conheceu Maria de Jesus, disse-lhe: «Muito bem falaram de si, mas agora vejo que é muito mais do que todo o bem que diziam». Santa Teresa dizia de Maria de Jesus que seria santa, mas que já o era e que era muito mais do que o que tinha imaginado dela. Segundo alguém escreveu, a Irmã Maria de Jesus padeceu os trabalhos do Céu, da terra e dos infernos, mas de todos saiu vencedora pela graça e pela força de Deus. Na sua última doença, ouviu Cristo que lhe perguntava se não queria já entrar na glória. Maria de Jesus respondeu que a prioresa a queria viva e lhe ordenava que pedisse a Deus a vida. Ao que Cristo lhe respondeu: «Pede-lhe licença para morrer e ela ta dará». Assim aconteceu. No dia 13 de Setembro de 1640, Maria de Jesus, tomando as mãos da prioresa, pediu-lhe licença para morrer. Tendo respondido a priora: «Faça-se a vontade de Deus». E assim faleceu de seguida a Irmã Maria de Jesus. Maria de Jesus, «o letradilho» da Santa Madre, sua amiga, discípula e confidente morreu com oitenta anos, dos quais 63 como carmelita descalça. |
Beata Maria Felícia de Jesus Sacramentado
Chiquitunga
Maria Felícia Guggiari Echeverría nasceu a 12 de Janeiro de 1925 em Villarrica del Espíritu Santo, no Paraguai, sendo a primogénita de sete filhos. Era fisicamente pequena, motivo pelo qual o seu pai apelidou-a, carinhosamente, de “Chiquitunga” (pequerrucha, em guarani). Foi batizada, quando tinha três anos, no dia 28 de Março de 1928. A sua mãe contou que, num dia de muito frio, Chiquitunga voltou da escola a tremer de frio porque tinha dado o seu agasalho a uma menina pobre. Uma das suas irmãs denunciou-a ao pai, porém ela respondeu: «Estás a ver, paizinho! Eu não sinto frio!». E repetia esfregando as mãozinhas nos seus braços nus e tiritantes. Numa outra vez chegou a casa com umas sandálias disformes e gastas porque tinha dado, em troca, os seus sapatos a uma menina necessitada. Episódios comoventes e significativos, que revelam o carácter desta menina que encontrava a sua felicidade na partilha com os outros.A 8 de Dezembro de 1932, recebeu pela primeira vez Jesus Eucaristia na Catedral de Villarrica. Deste dia recordará anos mais tarde: «Nunca se apagará da minha mente a lembrança do dia mais feliz da minha vida, o dia da primeira união com o meu Deus e o ponto de onde surge minha resolução de ser cada dia melhor». Ingressou na Ação Católica em 1941, onde foi uma militante empenhada e destacada. Dotada de esplêndidas qualidades humanas e espirituais, não passava despercebida a ninguém, sendo estimada por todos. Era muito alegre, sociável, prestável, modesta e muito simples.Na Ação Católica Chiquitunga encontrou um ideal e um objetivo que orientou toda a sua vida, tendo trabalhado, incansavelmente, num apostolado ativo, abrangente, de evangelização e de partilha com os mais desfavorecidos. O seu lema de vida: «TUDO TE OFEREÇO, SENHOR!» , que ela representava por T2OS, qual forma química para a felicidade, sintetiza a sua entrega a Deus, numa consagração total do seu ser.Em 1950, Maria Felícia conheceu Ángel Sauá Llanes, um jovem estudante de medicina e dirigente da Ação Católica e foi tal a comunhão de almas, partilhando o mesmo ideal, que surgiu entre eles uma profunda amizade e um amor pleno e puro. Contudo, buscando, em primeiro lugar, cumprir a vontade de Deus, os dois, de comum acordo, decidiram abdicar do seu amor humano para se consagrarem totalmente ao Senhor: ele no sacerdócio e ela na vida religiosa.Na manhã do dia 2 de fevereiro de 1955, ingressou no Mosteiro das Carmelitas Descalças de Assunção. Recebeu o hábito no dia 14 de agosto de 1955 e tomou o nome de Irmã Maria Felícia de Jesus Sacramentado. Fez a sua Profissão simples foi no dia 15 de Agosto de 1956.A Madre Teresa Margarida resumiu em poucas palavras as atitudes da Irmã Felícia desde o início da sua entrada no Carmelo: «Tinha um grande espírito de sacrifício, caridade e generosidade, tudo envolvido em grande mansidão e comunicativa alegria, sempre viva e brincalhona».No dia 9 de janeiro de 1959 foi internada por se encontrar doente com uma hepatite infeciosa, a mesma doença com que na antevéspera falecera a sua irmã Manhica.Em meados de fevereiro pôde regressar ao mosteiro e no dia 22 de março teve alta dos médicos, com o júbilo das irmãs que já a consideravam curada. Porém, no dia 26, domingo de Páscoa, o seu irmão, que era médico, diagnosticou-lhe “Púrpura” e foi novamente hospitalizada.Morreu na madrugada do dia 28 de abril de 1959, depois de lhe lerem o poema “Morro, porque não morro”, de Santa Teresa de Jesus. As suas últimas palavras foram: «Jesus eu amo-Te! Que doce encontro! Virgem Maria!» Em 24 de setembro 2011 foi feita a exumação dos restos mortais da Irmã Maria Felícia e, após a limpeza dos ossos, foi descoberto o seu cérebro incorrupto.Foi solenemente beatificada no dia 23 de junho de 2018, aquela que é a primeira beata paraguaia, no estádio Pablo Rojas, em Assunção, numa cerimónia presidida pelo Cardeal Ângelo Amato, como delegado do Papa. |
Beato Eugénio Maria do Menino Jesus
Biografia
No dia 19 de Novembro, em Avignon, França, foi beatificado o Carmelita Descalço, Padre Eugénio Maria do Menino Jesus.
Henri Grialou nasceu dia 2 de Dezembro de 1894, na povoação de Aveyron. Desde criança que sentiu a vocação ao sacerdócio. Depois da I Guerra Mundial, sentiu intensamente a protecção de Santa Teresinha do Menino Jesus que foi descobrindo cada vez mais, ao ponto de o acompanhar ao longo de toda a sua vida. Mais tarde, estando no Seminário Diocesano, descobriu os escritos de S.João da Cruz. A sua leitura levou-o a reorientar a sua vocação para o Carmelo Descalço. A 24 de Fevereiro de 1922, após a sua ordenação sacerdotal entrou na Ordem dos Carmelitas Descalços, recebendo o nome de Frei Eugênio Maria do Menino Jesus. ESCRITOS PENSAMENTOS |
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ORAÇÃO |
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Ó Espírito de Amor… Dai a cada uma das nossas almas, esta beleza, esta grandeza, que sonhastes para elas desde toda a eternidade. Nós Vo-lo pedimos humildemente, ó Pai Fonte de toda a luz, ó Jesus nosso Irmão, nosso Mestre, nosso Rei, ó Espírito Santo, Amor substancial, Arquitecto e artesão dos desígnios de Deus. Realizai inteiramente este pensamento de Deus. Que nenhuma centelha deste amor que nos destinais fique inactiva, mas desça sobre nós. Uni-nos a Vós, Entrevei já toda a nossa participação na vossa vida trinitária. Nela encontraremos a nossa felicidade, e sei que Vós também encontrareis nela uma glória, secundária é verdade, mas, na qual, sabereis entretanto comprazer-Vos. Eis a oração que fazemos, ó Santíssima Trindade. É para vossa glória, vossa alegria, para a expansão da vossa vida trinitária. Assegurai a sua eficácia por uma nova infusão do Espírito Santo. Que cada dia, cada instante da nossa vida marque um crescimento da vossa infusão. E quando dominardes sobre cada um de nós daremos testemunho de Vós ali onde Vós nos enviais, como Vós nos enviais. E neste apostolado do testemunho encontraremos a nossa razão de ser, ó Pai, ó Filho, ó Espírito Santo. Considerai o que fizestes, e realizai inteiramente a vossa obra em nós, e por nós, em todos aqueles que introduziremos no mesmo desígnio de amor, na vossa vida trinitária, junto de Vós e em Vós. Amém. Pentecostes de 1963, extracto da homilia. |
Beato Francisco Palau y Quer
O Beato Francisco Palau y Quer, Fundador das Carmelitas Missionárias e Carmelitas Missionárias Teresianas, nasceu em Aytona, Barcelona a 29 de Dezembro de 1811. Depois de uma infância perpassada pelos acontecimentos inerentes a ocupação francesa, o menino tornou-se num jovem na procura de um ideal que albergasse o seu sonho de entregar-se ao Amor. Procurou no Seminário em Lérida (Barcelona)… foi ao Convento dos Frades Carmelitas Descalços onde professou… mas Deus tinha outros planos para ele e servindo-se da Revolucão anti-clerical que levou à Exclaustração e expropriação das ordens religiosas lançou-o numa procura incansável da Sua Amada (=Igreja)! Esse fogo fê-lo ordenar sacerdote em Barbastro.
Passou as fronteiras… Servindo a Igreja, descobriu que os homens eram explorados e não conheciam o Evangelho. Criou a Escola da Virtude onde se reuniam para a evangelização. Também se serviu das missões populares e da imprensa com o jornal ”Ermitaño”. Tornou-se incomodo e confinaram-no à Ilha de Ibiza. Aí dedicou-se à oração; a pregação pela ilha, tendo como singular companheira de caminho a Virgem do Carmo; atender por via epistolar aqueles que com ele se dirigiam. E eram muitos… núcleos de mulheres que procuravam viver segundo a sua orientação e de homens que viviam como eremitas. A sua alma buscadora encontrou finalmente o que há tanto tempo ansiava: o Deus dos homens e os homens de Deus numa totalidade. Assim o mistério da Igreja (Deus e o próximo) centrou o seu coração e contagiou aqueles que com ele tratavam. O seu tesouro não podia ficar escondido! Surgiram as primeiras comunidades que se identificaram com este seu sonho! Este sonho chegou até hoje e estende-se pelos cinco continentes, prolongando-se em cada carmelita missionária e carmelita missionária teresiana. A sua vida entregue à Igreja transfigura-se no dia 20 de Março de 1872. Francisco Palau, Homem, de rasgos fortes e bem marcados; de mediana estatura e de constituição forte se descobre uma figura austera e severa. Enamorado do silêncio, do retiro e da solidão, é e se sente apóstolo de actividades múltiplas e transbordantes. Pregador incansável: vê a recristianização do ambiente espanhol e europeu como uma autêntica obra de evangelização. A Direcção Espiritual foi um dos meios pelos que transmitiu com maior eficácia e autenticidade o seu espírito aos membros da família religiosa que criou. Fica também expresso nas suas cartas. A sua faceta de catequista e renovador fez patente na grande obra da Escola da Virtude de Barcelona. Foi escritor, mais por exigências pastorais que por vocação. Conseguiu, no entanto, compor páginas originais que ocupam lugar privilegiado na literatura religiosa e espiritual do século XIX espanhol. Algumas das suas obras são: a Luta da alma com Deus; A vida solitária; o Catecismo das Virtudes; Mês de Maria; A escola da Virtude Vindicada; A Igreja de Deus Figurada pelo Espírito Santo; entre outras. Menção especial merecem as páginas de índole autobiográfica como são as cartas e As minhas Relações com a Igreja. As 169 cartas reunidas no epistolário são uma fonte insubstituível para conhecer e compreender o Padre Francisco Palau. Foi considerado exorcista pela sua missão a favor dos marginalizados que o procuravam na sua residência de Santa Cruz de Vallcarca (Barcelona). Foi beatificado a 24 de Abril de 1988 e a sua festa litúrgica celebra-se a 7 de Novembro. |
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Pensamentos do Beato Francisco Palau y Quer |
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“Que bem cuidado está aquele que se fia de Deus!” “Irei aonde a glória de Deus me chame.”“A voz de Deus não deixa vazia a alma, enche-a e dá-lhe firmeza.”“A obra grande de Deus no homem lavra-se no interior.”“Amar a Deus e ao próximo é a finalidade da minha missão.”“Confiemos em Deus e na Sua Mãe, e não seremos enganados nem confundidos nas nossas esperanças.”“Amo-te Igreja! O mínimo que te posso oferecer é a minha vida!”“Na oração tudo encontrarás!” |
Beatos Dionísio da Natividade e Redento da Cruz
Memória a 29 de Novembro
Os carmelitas, Dionisio e Redento, encontraram-se no ano de 1635, no Convento do Carmo, em Goa. Sem antes se conhecerem, aqui se juntaram para virem a ser os primeiros mártires da família fundada por Santa Teresa de Jesus e S. João da Cruz. O Beato Redento da Cruz é portugês, natural de Cunha,Paredes de Coura, Viana do Castelo. Aqui nasceu em 1598. O seu nome de baptismo foi Tomás Rodrigues da Cunha. Cresceu embalado por sonhos dourados de guerreiro e de glória. Muito jovem ainda dirigiu-se a Lisboa, onde embarcou para a India vindo a ser nomeado capitão pela sua valentia nas batalhas em que tomou parte. Não só devido à sua valentia, mas também à destreza e ao seu espírito afável e temperamento comunicativo e alegre, conquistava as simpatias de quantos o conheciam. Na cidade de Tatá, no reino de Sinde, conheceu os carmelitas descalços que aí tinham uma comunidade. Depressa se sentiu atraído peio estilo de vida destes homens que, seguindo os passos de S. Teresa de Jesus e S. João da Cruz, viviam uma santidade alegre e comunicativa. A princípio, o prior do convento escusou-se a admitir o capitão da guarda de Meliapor pensando que ele não era para aquele género de vida. Mas Tomás Rodrigues da Cunha tanto insistiu que o prior acedeu ao seu pedido deixando-o tomar hábito e iniciar o noviciado. Tomás deixou tudo: a carreira militar, a posição social, a glória e até o nome vindo a chamar-se, desde então, Frei Redento da Cruz. No ano de 1620, foi fundado o nosso convento do Carmo de Goa, para onde foi enviado Frei Redento, depois de também ter sido frade conventual no convento de Diu. Frei Redento cativava com a sua simpatia e era estimado por todos por ser alegre, simpático e com um grande sentido de humor. Em Goa, deram-lhe o ofício de porteiro e sacristão. No ano de 1600, em França, nasceu Pedro Berthelot. Também este jovem se inclinou para o mar fazendo-se marinheiro apenas com 12 anos de idade. Em 1619, também ele embarca para a India, onde trabalhou para a armada francesa e holandesa, ao serviço de quem se tornou célebre, ascendendo a piloto de caravela. Finalmente colocou-se ao serviço dos portugueses que o nomearam Piloto-mor e Cosmógrafo das Indias. Deixou-se contagiar pelo testemunho do carmelita, Frei Filipe da Santíssima Trindade e decidiu, como ele, fazer-se carmelita. Todos os dias visitava a igreja do Carmo e um dia decidiu tomar hábito. Era a véspera do Natal e recebeu o nome de Frei Dionísio da Natividade. Em 1636, os holandeses atacaram Goa. O Vice-rei das índias escreve ao Prior do Carmo pedindo-lhe licença para o noviço Frei Dionísio comandar as operações. O que aconteceu. O Piloto-mor e Cosmógrafo das Indias, agora vestido de hábito castanho e capa branca e calçando sandálias, conduziu a esquadra portuguesa à vitória. Em 1638 foi ordenado sacerdote. O Irmão Redento da Cruz continuava o seu ofício de porteiro do convento do Carmo de Goa, enquanto Frei Dionísio se preparava para o sacerdócio. Todos conheciam o porteiro do Carmo e todos o tinham por santo. Não perdia ocasião de a todos edificar oferecendo fios, que arrancava do seu hábito, às pessoas suas amigas, dizendo-lhes que eram relíquias de santo. As pessoas riam-se com Frei Redento, mas ele apenas dizia: «agora riem-se, mas esperem um pouco e haveis de ter pena de não ter mais relíquias minhas». Deus segredava-lhe ao coração que um dia seria santo. Em 1638 novamente foi solicitado ao Prior dos carmelitas que autorizasse Frei Dionísio a comandar uma nova expedição. Concertadas as coisas, Frei Dionísio escolheu e pediu por companheiro a Frei Redento da Cruz que ao despedir-se da comunidade disse sereno e de bom humor: «se eu for martirizado pintem-me com os pés bem de fora do hábito, para que vendo as sandálias todos saibam que sou carmelita descalço». Tentaram, as pessoas e benfeitores do convento, impedir por todos os meios a saída do santo porteiro do Carmo temendo o seu martírio. Finalmente, como último recurso, colocaram-lhe drogas na comida para o adormecerem, mas estas não surtiram efeito. Seguidamente embarcou o santo exclamando: «vamo-nos que tenho de ser mártir». De facto, traídos pelo rei de Achem, a armada portuguesa foi surpreendida e detida. Forçaram-nos a renegar a fé mas não conseguiram tal traição a Cristo de nenhum dos 60 prisioneiros. Decidiram o seu martírio. Muitos dos sessenta prisioneiros eram rapazes jovens. Havia também um sacerdote indiano que recusou a liberdade. Frei Redento foi o primeiro a ser martirizado, encorajando os companheiros de martírio; Frei Dionísio, o último para a todos confortar. Era o dia 29 de Novembro de 1638. Quando em Goa se soube do acontecimento, repicaram os sinos na igreja do Carmo como em dia de grande festa e cantaram um Te Deum em acção de graças. |
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Oração |
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Senhor, nosso Deus, Que concedestes aos mártires Dionísio da Natividade e Redento da Cruz a honra e a graça de dar a vida pelo nome de Cristo, infundi em nós a vossa força, pois somos fracos, e a exemplo daqueles que morreram corajosamente por vosso amor, fazei que saibamos mantermo-nos fortes e fiéis para dar testemunho do vosso amor com a nossa vida. |
Beta Josefa Naval
Memória a 25 de Setembro
Josefa Naval nasceu em Algemesi, na diocese de Valência, Espanha, a 11 de Dezembro de 1820. Desde a adolescência se consagrou, para sempre, ao Senhor. Percorreu o caminho da oração e da perfeição evangélica numa vida simples e de ardente caridade. Dedicou-se com generosidade às obras de apostolado no ambiente da sua comunidade paroquial. Fez da sua casa uma escola de oração e de virtudes evangélicas, onde se formaram muitas jovens e mulheres na sabedoria humana e espiritual. Acorria todos os dias à igreja, para a celebração da eucaristia, tratando também com carinho os paramentos e os altares. Recordando a palavra de Cristo que nos mandou ser luz para iluminar a todos, procurava todas as oportunidades para falar de Deus. Em sua casa organizava reuniões para as mães, ajudando-as na formação familiar e cristã. Encaminhava para a virtude, as mulheres que se tinham distanciado do caminho recto. Admoestava com prudência a todos os pecadores. No entanto, as suas primeiras preocupações relacionavam-se com a educação humana e religiosa das jovens; para elas abriu, mais tarde, uma escola gratuita de bordados, trabalho no qual era muito entendida. Aquela escola transformou-se num centro de convívio fraterno, de oração e louvor a Deus onde era explicada e aprofundada a Sagrada Escritura e as verdades eternas. Josefa Naval cultivava com fervor a vida interior, a oração, a meditação e a fortaleza nos trabalhos da vida. Era grande a sua devoção à Eucaristia, à Virgem Maria e aos Santos. Foi beatificada por João Paulo II, em 1988. Qual foi, podemos perguntar, o segredo, o mistério e a força interior que levou Josefa Naval aos cumes da santidade? Josefa era membro da Ordem Terceira dos Carmelitas Descalços, agora chamada Ordem Secular. A Ordem Carmelita, como família de Maria, agrupa ao redor de Nossa Senhora do Monte Carmelo, inúmeros filhos: uns vivem a sua vocação no claustro do convento, os frades e as freiras; outros vivem em outras congregações de religiosas e religiosos que se alimentam na espiritualidade carmelitana; outros ainda, constituem uma numerosa multidão de homens e mulheres, rapazes e raparigas que, fazendo no mundo a sua vida normal e nele permanecendo, se alimentam e vivem a vida carmelita, unidos a esta família. São também eles Carmelitas e constituem parte integrante da Ordem. Estes laços são distintos. Vão desde a amizade, passando pelo uso do Escapulário, até chegar aos Carmelitas Seculares que se empenham a viver os conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência, segundo o seu estado de vida. Josefa Naval era uma Carmelita Secular, e como tal sentia-se verdadeira carmelita, um membro vivo da Ordem Secular dos Carmelitas. No conhecimento de Santa Teresa de Jesus e de S. João da Cruz e no seguimento da Virgem do Carmo bebeu o segredo da sua santidade. Tornou-se, por isso, a primeira flor amadurecida e reconhecida como santa na Ordem Secular do Carmo, fundada por Santa Teresa e S. João da Cruz. Morreu piedosamente no Senhor a 24 de Fevereiro de 1893. O seu corpo conserva-se na igreja Paroquial de S. Jaime que ela serviu com muita dedicação, carinho e esmero. É grande a popularidade que goza na sua diocese, manifesta no grande número de fiéis que recorrem à intercessão da «senhora Pepa» como era conhecida na sua paróquia. O seu processo de canonização encontra-se adiantado, pois são muitas as graças que os seus devotos têm recebido por sua intercessão. |
Profeta Elias
Festa a 20 de Julho
O profeta Elias aparece nas Sagradas Escrituras como um homem de fogo, completamente abrasado pelo amor de Deus. Homem de silêncio e da contemplação. Quando aparece em público é para falar de Deus. A Bíblia conta dele as maiores maravilhas e faz os mais belos elogios: pela sua oração Deus negou a chuva à terra durante mais de três anos, e quando de novo rezou no Monte Carmelo pelo do povo, Deus enviou abundantemente a chuva. Fugindo do terrível rei Acab e escondido numa gruta, o Senhor ordenou a um corvo que durante muitos dias levasse pão a Elias. Na sua fuga ia o profeta esfomeado. Era o tempo da seca em que Deus não abençoava nem os homens nem a terra com a chuva. Foi pois neste período que Elias abençoou uma viúva pedindo ao Senhor que, enquanto durasse a seca, não lhe faltasse nem a farinha nem o azeite para o seu sustento e do seu filho, em reconhecimento pela hospitalidade desta família pobre que socorreu o faminto profeta de Deus. E, mais tarde, tendo morrido o único filho desta viúva, Elias ressuscitou o menino. No monte Carmelo fez Elias descer fogo sobre o sacrifício, mostrando assim que o deus Baal e os seus profeta eram falsos. Novamente se viu forçado a fugir a Acab e à sua mulher Jezabel. Faminto e desalentado no deserto para fortalecer e alimentar Elias com o pão e a água para o acompanhar durante quarenta dias e quarenta noites até ao monte de Deus. Uma vez aqui, manifestou-se-lhe Deus fazendo fustigar a terra por um vento impetuoso e por um tremendo terramoto. Deus apenas esteve presente numa brisa suave que refrescou o rosto de Elias. Após a manifestação no monte de Deus, Elias predisse a morte do rei Acab e do seu filho Ocozias, ambos desagradáveis ao senhor, e da rainha Jezabel, pagã e má. Sagrou reis e profetas e elegeu como seu sucessor, Eliseu, a quem deixou o seu manto e o seu espírito como herança, quando foi elevado ao céu num carro de fogo puxado por cavalos de fogo. Pelo seu amor ao silencio e à contemplação, pela fortaleza do seu espírito de profeta e pela ligação à montanha do Carmelo, desde muito cedo os carmelitas escolheram Elias como o seu inspirador espiritual, tal como haviam escolhido Maria, prefigurado na nuvenzinha que Elias vira no Carmelo, como Mãe e Irmã da Ordem por eles fundada. |
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Viver em presença |
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Senhor, Deus dos nossos pais na fé, que concedestes ao profeta Elias viver sempre na vossa presença, inflamado pelo zelo da Vossa glória, concedei-nos que procuremos sempre o vosso rosto e que sejamos no mundo testemunhas do vosso amor. |
Santa Edith Stein
Festa a 9 de Agosto
Santa Edith Stein nasceu a 12 de Outubro de 1891, no seio de uma família de judeus. A cidade que a viu nascer chama-se Breslau, na Alemanha. Apaixonadíssima pela busca e conhecimento da verdade, procurou-a com toda a força da sua alma, desde a sua juventude. Não encontrou a verdade, nem na religião judaica nem na filosofia que entretanto estudou e ensinou como professora na Universidade de Gottingen. Um dia, encontrando o Livro da Vida, escrito pela Nossa Santa Madre Teresa de Jesus, exclamou entusiasmada: «Esta é a verdade!», e não parou de ler enquanto não terminou o livro. Baptizou-se em 1922, tomando o nome de Teresa. Em 1933 entrou no Carmelo da Cidade de Colónia, tomando o nome de Teresa Benedita da Cruz; pois, como dizia, foi Santa Teresa quem a despertou para a Verdade e, em S. João da Cruz, nosso pai, encontrou a perfeita vivência do mistério da Paixão, a razão do seu viver. Imitando-o tomou o nome da Cruz. Ofereceu-se como vítima de Deus, pelo seu povo e pela paz. Antes de ingressar no Carmelo, algumas pessoas influentes tentaram demovê-la da sua decisão, dizendo-lhe que era mais útil na Universidade que no convento. Ao que Edith Stein respondeu dizendo: «Não é a actividade humana que nos há-de salvar, mas a Paixão de Cristo. Tomar parte nela é a minha aspiração». E depois de se ter tornado carmelita acrescentou: «A oração e o sacrifício valem muito mais do que se possa pensar… Por toda e qualquer oração, mesmo pela mais pequenina, acontece algo na Igreja… Aprendamos a servir-nos da oração, para que à hora, de cada dia, fazermos uma obra de eternidade». A perseguição anti-semita punha a sua vida em perigo. Os superiores decidiram, por isso, que deixasse a Alemanha, e transferiram-na para um Carmelo na Holanda. Foi-lhe muito difícil abandonar o Carmelo de Colónia onde entrara na Festa de Santa Teresa, a 15 de Outubro de 1933. Acerca do Carmelo escreveu dizendo: É o santuário mais íntimo que a Igreja tem. Sempre me pareceu que Deus me tinha reservado, no Carmelo, alguma coisa que em nenhuma outra parte do mundo me poderia dar». Após a invasão da Holanda por Hitler, a terrível polícia SS foi arrancá-la à clausura do Carmelo. A Irmã Teresa da Cruz saudou os polícias com a saudação cristã «Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo», porque como disse, estava convencida que com «aquela saudação não saudava a polícia alemã, antes os representantes daquela luta antiga entre Cristo e o Demónio». No dia 9 de Agosto de 1942, foi conduzida à câmara de gás, repetindo pela última vez o que já deixara escrito antes: «Não sou nada e nada valho, mas… quero oferecer-me ao Coração de Jesus como vítima pela verdadeira paz. Que seja derrubado o poder do Anti-Cristo e a ordem se volte a estabelecer». Diante da morte soube manter-se serena até ser acolhida pelas mãos de Deus, das quais deixou dito: «Aquelas mãos dão e pedem ao mesmo tempo. Vós sábios, deponde a vossa sabedoria e tornai-nos simples como crianças. Segui-me porque é preciso decidir entre a luz e as trevas». Morreu no campo de concentração de Aushwitz, repetindo a sua doação como vitima pela paz e pelo seu povo de Israel. Mulher de singular inteligência e cultura, afamada professora universitária de Filosofia, deixou-nos numerosos escritos de elevada doutrina e profunda espiritualidade. O centro da sua vida e da sua contemplação na oração, pode comprovar-se pelos seus escritos, era o mesmo de S. João da Cruz: o mistério grandioso de Cristo Crucificado. |
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A oração é o trato de amizade… |
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«A oração é o trato de amizade da alma com Deus. Deus é amor, e amor é bondade que se dá a si mesma; uma plenitude existencial que não se encerra em si, mas que se derrama, que quer dar-se e tornar feliz. Toda a criação deve o seu ser a esse transbordante amor de Deus. As criaturas mais dignas são os seres dotados de espírito, que recebem esse amor de Deus entendendo-o, e podem corresponder livremente: os anjos e os homens. A oração é a actividade mais sublime de que é capaz o espírito humano. Mas não é só fadiga humana. A oração é como a escada de Jacob, pela qual o espírito humano sobe até Deus, e a graça de Deus desce aos homens. Os graus da oração distinguem-se entre si, na medida da participação entre a potência da alma e a graça de Deus. Ali onde a alma com as suas potências não pode actuar mais, é como um cântaro que se enche de graça, fala-se de vida mística da oração. O primeiro grau é a oração vocal, que se realiza com determinadas fórmulas faladas: o Pai Nosso, a Avé Maria, o Rosário, as Horas canónicas. Essa oração vocal não deve entender-se de modo que consista só em pronunciar as palavras. Onde a oração vocal se pratica de modo que o espírito não se eleva para Deus, é uma aparência de oração, não uma oração verdadeira. As palavras são um apoio para o espírito, indicando-lhe um caminho. Um nível mais elevado é a meditação. Nela o espírito desenvolve-se em liberdade, sem impedimentos de linguagem. Por exemplo, meditamos no mistério do nascimento de Jesus. A imaginação transporta-nos à gruta de Belém, mostra-nos o Menino no presépio, os seus santos pais, os pastores e os reis. O seu entendimento reflecte sobre a grandeza da misericórdia divina, o coração sente-se cheio de amor e gratidão, a vontade decide-se a tornar-se mais digna do amor divino. Deste modo, a meditação absorve todas as potências da alma, e, exercida com perseverança, pode pouco a pouco mudar completamente o homem. O Senhor costuma premiar essa perseverança na meditação de outro modo: eleva-o a uma forma de oração mais alta. A esse grau mais alto chama-lhe a Santa oração de quietude. À actividade transbordante do entendimento, segue-se um recolhimento de todas as potências da alma. A alma já não é capaz de fazer grandes considerações intelectuais e decidir resoluções concretas; vê-se inundada por algo, que se lhe deita em cima sem poder resistir-lhe; é a presença divina que lhe dá sombra e repouso. Enquanto que os primeiros graus da oração os pode escalar qualquer crente com esforço humano, ainda que, está claro, ajudado sempre pela graça divina, aqui encontramos as fronteiras da vida mística da graça, que não se podem atravessar com a força humana, porque é só a força divina que nos arrasta para ela. E se a evidência da divina presença concentra totalmente a alma e a faz transbordar de incomparáveis alegrias humanas, a união com Deus ultrapassa de maneira inaudita essas alegrias, que aqui se lhe concedem, ainda que como centelhas fugazes. Neste grau de graças místicas acumulam-se variedade de experiências, que ainda exteriormente se podem apreciar como extraordinárias: êxtases e visões. As potências interiores da alma sentem-se de tal forma cobertas por actuações sobrenaturais, que as suas potências exteriores, os sentidos, se vêem atrofiados: nem vê, nem ouve, o corpo é incapaz de sentir a dor, e está por vezes rígido como um cadáver. Pelo contrário, a alma, aliviada do corpo, abunda de actividade: vê já o Senhor em imagem corpórea, a Mãe de Deus, os anjos, os santos. Contempla esses corpos celestiais como se os visse com os seus próprios olhos. Ou então o entendimento vê-se iluminado por uma luz sobrenatural que lhe permite contemplar verdades ocultas. Estas revelações pessoais têm geralmente o fim de instruir a alma sobre o seu próprio estado, ou sobre o estado de outras almas, de familiarizar a alma com os segredos divinos e preparar a alma para uma determinada missão, que o Senhor lhe tem preparada. Nunca faltam na vida dos santos, ainda que não seja o essencial da sua santidade. A maioria das vezes aparecem num determinado estado para novamente desaparecer. As almas que o Senhor preparou e provou por meio de frequentes uniões temporais, revelações extraordinárias, sofrimentos e tentações de toda a espécie, quer uni-las consigo. Estabelece com elas uma aliança, que se chama desposório místico. Espera dessas almas que se dediquem completamente ao seu serviço; preocupa se com elas e está sempre disposto a atender as suas petições. Finalmente, Teresa chama matrimónio místico ao grau mais alto da graça divina. Cessam as manifestações extraordinárias, mas a alma está sempre unida com o Senhor; goza da sua presença mesmo no meio das actividades exteriores, que em nada lhe impedem a união». (“Amor com Amor”) Edith Stein in As mais belas páginas de Edith Stein p. 49,51 |
Santa Isabel da Trindade
Memória a 8 de Novembro
Isabel Catez nasceu, no campo militar de Avor, perto de Bourges, França. O seu pai era capitão do exército francês. Desde muito cedo que Isabel mostrou ser uma criança turbulenta, muito viva, faladora, precoce e de temperamento colérico. A sua mãe quando fala dela nalgumas cartas chama-a «autêntico diabinho». E a sua irmã não hesita em escrever que era «um verdadeiro diabo». Chega mesmo a dizer que era tão violenta que os familiares a ameaçaram enviar para uma casa de correcção. No entanto, a sua mãe, atenta, soube modelar a fúria de Isabel e fazer sobressair nela a ternura e docilidade. E de tal maneira a ternura ganhou terreno que o maior castigo de Isabel acontecia quando a sua mãe, à noite, se despedia dela sem lhe dar um beijo. Então, Isabel compreendia que não se tinha portado bem, e, meditando fazia exame de consciência e corrigia-se. Isabel era ainda uma criança quando a sua família se mudou para a cidade de Dijon. Aqui Isabel perdeu o pai tão querido que a morte lhe roubou. O dia da primeira comunhão, a 19 de Abril de 1891, foi «o grande dia» da vida de Isabel. Tinha então 10 anos, pois nascera no dia 18 de Julho de 1880. Estudou piano desde os 8 anos de idade no Conservatório, vindo a tornar-se uma «excelente pianista», segundo expressão do seu professor de música. Participou em concertos organizados, e, os jornais falaram do seu grande talento ainda mal a menina Catez chegava aos pedais do piano. Entre músicas e festivais, bailes, férias e diversões foram decorrendo os anos de Isabel. Aos catorze anos sentiu-se irresistivelmente atraída por Jesus. Aos 18 a sua mãe pretendeu casá-la com um esplêndido noivo, mas Isabel respondeu: «o meu coração já não está livre, dei-o ao Rei dos reis, já dele não posso dispor». O desgosto da mãe foi grande. Mas foi mais amargo quando soube que Isabel queria entrar no Carmelo, que tantas vezes tinham visitado, pois ficava ali a dois passos. A mãe apenas consentiu a entrada da filha no Carmelo quando alcançou a maioridade, aos 21 anos. No dia 2 de Agosto de 1901, Isabel entra definitivamente nessa bela montanha do Carmo que pela sua solidão e beleza a atraiu irresistivelmente. A partir de então o seu nome será Irmã Isabel da Santíssima Trindade. «Gosto tanto do mistério da Santíssima Trindade! É um abismo no qual me perco. Deus em mim, eu n’Ele. É o grande sonho da minha vida. Para uma carmelita viver é estar em comunhão com Deus desde a manhã até à noite, e desde a noite até de manhã. Se Deus não enchesse as nossas celas e os nossos claustros, oh!, como tudo seria vazio! Mas é Ele que enche toda a nossa vida fazendo dela um céu antecipado». A irmã Isabel tomou o hábito a 8 de Dezembro de 1901. Iniciada a vida de noviciado a paz e a felicidade mudou-se em noite escura; foi o momento da purificação interior. Com a profissão religiosa, que fez a 11 de Janeiro de 1903, recuperou a paz e a serenidade interior. Depressa a Irmã Isabel descobriu a sua vocação. Lendo S. Paulo descobriu que ela devia ser o «louvor da glória de Deus». Esta ideia e esta vocação serão o rumo e o norte de Isabel da Santíssima Trindade: «louvor de glória» é uma alma que mora em Deus e O ama com amor puro, amante do silêncio qual lira mantida sob o toque misterioso do Espírito Santo, fazendo sair de si harmonias divinas. «Louvor de glória» é uma alma que contempla a Deus em fé simples e permanece como um eco perene do eterno cântico celeste. O segredo da felicidade é não se preocupar consigo mesmo, é negar-se em todo o momento». Seguindo o Caminho que é Cristo, a Irmã Isabel entrou no mistério de Deus através de Maria a quem gosta de chamar a Porta do céu. Seguindo os nossos pais e mestres~, Teresa de Jesus e, sobretudo, João da Cruz, de quem constantemente fala nos seus escritos, Isabel mergulha no mistério das Três Pessoas Divinas, nesse Oceano sem fundo que é a Santíssima Trindade e que ela se sente envolvida por dentro e por fora. Tal como S. João da Cruz se sentiu fascinado pela formosura de Deus, também Isabel da Trindade se sente atraída pela beleza de Deus. Isabel gostava de ver o sol penetrar nos claustros e recordar aquela comparação de Santa Teresa que dizia que a alma é como um cristal que reflecte a Deus. A nossa irmã deixou-nos este testemunho: «cada dia na minha vida de esposa me parece mais belo, mais luminoso, mais envolto em paz e amor». Mas foi a vivência total daquela frase de S. João da Cruz: «a alma perfeita e unida a Deus em tudo encontra alegria e motivo de deleite até naquilo que entristece os outros, e sobretudo alegra-se na cruz» que levou a Irmã Isabel a perder-se em Deus como uma gota de água no Oceano, segundo a sua própria expressão. Foi o perfeito louvor da glória de Deus, por isso, apenas com 26 anos se encontrava preparada para voar para a paz: «tudo é calma, tudo fica tranquilo e é tão bom, a paz do Senhor». Nos finais de Março de 1906, a Irmã Isabel foi colocada na enfermaria. Sentia-se feliz por morrer carmelita e escreve esta frase que é uma cópia do verso de S. João da Cruz: «sem outro ofício senão o de amar, estou na enfermaria». As Irmãs rezavam pela sua cura e Isabel juntou o seu pedido às orações da comunidade, mas sentiu que Jesus lhe dizia que os ofícios da terra já não eram para ela. No dia 1 de Novembro comungou pela última vez e dois dias antes da sua morte disse ao seu médico: «é provável que dentro de dois dias esteja no seio da Santíssima Trindade. É a Virgem Maria, aquele ser tão luminoso, tão puro, com a pureza do mesmo Deus, quem me levará pela mão e me introduzirá no céu tão deslumbrante». Pouco antes da sua morte, Isabel disse às suas Irmãs esta frase tão bela e que ficou célebre: «Tudo passa! No entardecer da vida só o amor permanece». Frase que se parece com aquela outra de S. João da Cruz, também muito bela e conhecida: «à tarde serás examinado no amor». A sua última noite foi terrivelmente penosa, pois às suas horríveis dores juntou-se-lhe também a falta de ar, mas ao amanhecer Isabel sossegou, e inclinando a cabeça abriu os olhos, e exclamou: «vou para a Luz, para o Amor, para a Vida», e adormeceu para sempre. Era a madrugada do dia 9 de Novembro de 1906. |
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Ó meu Deus, Trindade que eu adoro |
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Ó meu Deus, Trindade que eu adoro, ajudai-me a esquecer-me inteiramente, para me estabelecer em vós, imóvel e pacífica como se já a minha alma estivesse na eternidade. Que nada possa perturbar a minha paz, nem fazer-me sair de vós, ó meu Imutável, mas que cada minuto me leve mais longe na profundeza do vosso Mistério. Pacificai a minha alma, fazei dela o vosso céu, vossa morada amada e o lugar de vosso repouso. Que nunca aí eu vos deixe só, mas que esteja lá inteiramente, toda acordada em minha fé, perfeita adoradora, toda entregue à vossa Acção criadora.
Ó meu Cristo amado, crucificado por amor, quereria ser uma esposa para o vosso Coração, quereria cobrir-vos de glória, quereria amar-vos… até morrer de amor! Mas sinto a minha incapacidade e peço-vos para me «revestirdes de vós mesmo», para identificar a minha alma com todos os movimentos de vossa alma, me submergir, me invadir, e vos substituir a mim, a fim que a minha vida não seja senão uma irradiação da vossa Vida. Vinde a mim como Adorador, como Reparador e como Salvador. Ó Verbo eterno, Palavra do meu Deus, quero passar a minha vida a escutar-vos, quero tornar-me inteiramente dócil ao vosso ensino, a fim de tudo aprender de vós. |
Santa Maria de Jesus Crucificado
Memória a 25 de Agosto
1846-1878
Miriam Baouardy nasceu a 5 de janeiro de 1846, em Ibillin, numa pequena aldeia da Galileia, entre Nazaré e Haifa, numa família de rito greco-católico. Os seus pais perdem, um após outro, os doze filhos em tenra idade. Com profunda dor, mas com uma grande confiança em Deus, decidiram fazer uma peregrinação a Belém para rezar na Gruta da Natividade e pedir a graça de uma filha. É assim que Miriam veio ao mundo. No ano seguinte nasceu o seu irmão Boulos. No Egipto: Alexandria e o martírio Miriam tem 12 anos quando sabe que o seu tio a quer casar. Decidida a dar-se totalmente a Deus, recusa a proposta. Tratam de persuadi-la e ameaçam-na. Nem as humilhações, nem os maus tratos puderam fazer mudar a sua decisão. Após três meses, ela visita um velho criado da casa do seu tio, para enviar uma carta ao seu irmão que vive na Galileia para que a venha ajudar. Ouvindo a narração dos seus sofrimentos, o criado que era muçulmano, exorta-a a converter-se ao Islão. Miriam recusa. Encolerizado, o homem pega numa espada e corta-lhe a garganta, abandonando-a logo de seguida numa rua escura. Era dia 8 de setembro. Mas a sua hora ainda não tinha chegado. Miriam acorda numa gruta, ao lado de uma jovem que parecia ser uma religiosa. Durante quatro semanas, Miriam é cuidada, alimentada e instruída por essa jovem. Depois de estar curada, aquela jovem religiosa, que mais tarde ela revelará ser a Virgem Maria, leva-a a uma igreja. Desde esse dia, Miriam irá de cidade em cidade (Alexandria, Jerusalém, Beirute, Marselha…), como doméstica, elegendo preferencialmente as famílias pobres, ajudando-as, mas deixando-as quando elas a honram demasiado. Em Marselha: as Irmãs de São José Em 1865 Miriam encontra-se em Marselha. Entra em contacto com as Irmãs de São José da Aparição. Tem 19 anos, mas só parece ter 12 ou 13. Fala mal o francês e possui uma saúde frágil, mesmo assim é admitida ao noviciado e a sua alegria é enorme por se poder entregar a Deus. Sempre disposta aos trabalhos mais pesados, passa a maior parte do seu tempo lavando ou cozinhando. Dois dias por semana revive a Paixão de Jesus, recebe os estigmas (que na sua simplicidade pensa ser uma doença) e começam a manifestar-se todo o tipo de graças extraordinárias. Algumas irmãs ficam desconcertadas com o que se passa com ela, e ao fim de 2 anos de noviciado, não é admitida na Congregação. Um conjunto de circunstâncias vão conduzi-la até ao Carmelo de Pau. O Carmelo de Pau, França É recebida em junho de 1867. Ali, no meio de todas as provas que terá de atravessar, encontrará sempre o amor e a compreensão. Ingressa de novo no noviciado, onde recebe o nome de Irmã Maria de Jesus Crucificado. Insiste em ser admitida como ‘irmã conversa’, pois gosta mais do serviço aos outros, tendo, por outro lado, dificuldades na leitura, nomeadamente na recitação do Ofício Divino. A sua simplicidade e generosidade conquistam o coração de todos. As suas palavras proferidas depois de um êxtase são o fruto da sua vida: “Onde está a caridade ali está Deus. Se pensais em fazer o bem ao vosso irmão, Deus pensará em vós. Se cavais um poço para o vosso irmão, caíreis nele; o poço será para vós. Mas, se fazeis um céu para o vosso irmão, esse céu será para vós…”. Dom da profecia, ataques do demónio ou êxtases… entre todas as graças divinas das quais está cheia, ela sabe, de maneira muito profunda o desejo de ser ‘nada’ diante de Deus, e quando fala dela mesma intitula-se “o pequeno nada”, é realmente a expressão profunda de seu ser. É o que a faz penetrar na insondável profundidade da misericórdia divina onde ela encontra a sua alegria, as suas delícias e a sua vida… “A humildade é ser por não ser nada, ela não se apega a nada, ela não se cansa nunca de nada. Está contente, é feliz, onde quer que esteja é feliz, está satisfeita com tudo… Felizes os pequenos!”. Ali está a fonte de seu abandono entre graças mais estranhas e os acontecimentos humanos mais desconcertantes. A fundação do Carmelo de Mangalore na Índia Após 3 anos, em 1870, parte com um pequeno grupo de Irmãs para fundar o primeiro convento de Carmelitas Descalças na Índia, em Mangalore. A viagem de barco foi uma aventura e três religiosas morrem antes de chegarem ao destino. São enviados reforços e, em finais de 1870, pode-se iniciar a vida claustral. As suas experiências extraordinárias continuam sem a impedir de realizar os seus trabalhos mais pesados e de dar atenção aos problemas inerentes a uma nova fundação. Durante os seus êxtases, as Irmãs podiam ver o seu rosto resplandecente na cozinha ou noutro local. Participa em espírito nos acontecimentos da igreja, por exemplo, nas perseguições na China e também parece ser possuída exteriormente pelo demónio, fazendo-lhe viver terríveis tormentos e combates. Foi o começo de muitas incompreensões na sua comunidade, onde duvidaram da autenticidade do que vivia. Não obstante, pôde emitir os seus votos no final do noviciado, a 21 de novembro de 1871; mas as tensões criadas ao seu redor acabaram por provocar o seu regresso ao Carmelo de Pau, em 1872. O regresso a Pau Naquele lugar leva de novo a sua vida simples de ‘irmã conversa’ no meio do carinho das suas irmãs e a sua alma dilata-se. Durante alguns êxtases, ela que é quase analfabeta, profere repentinamente em exultação de gratidão a Deus, poesias duma grande beleza, cheias de encanto e candor oriental, onde a criação inteira canta ao seu Criador. Pelo ímpeto da sua alma até Deus, elevar-se-á até ao cimo de uma árvore sobre um ramo que não suportaria nem sequer uma pequenina ave. “Todo o mundo dorme. E Deus, tão repleto de bondade, tão grande, tão digno de louvores, é esquecido!… Ninguém pensa n’Ele! A fundação do Carmelo de Belém Pouco depois de seu regresso de Mangalore, começa a falar da fundação de um Carmelo em Belém. Os obstáculos são numerosos, mas dissipam-se progressivamente, inclusive de maneira inesperada. Por fim a autorização é dada por Roma e a 20 de agosto de 1875 um pequeno grupo de carmelitas embarca nessa aventura. O Senhor conduz Miriam na escolha do local e na forma de construção do novo Carmelo. Como ela é a única que fala árabe, encarrega-se particularmente de seguir os trabalhos, “imersa na areia e na cal”. A comunidade instalar-se-á no dia 21 de novembro de 1876, embora certos trabalhos ainda continuem. Miriam e o Espírito Santo Miriam descobre-nos este mundo invisível tão perto de nós e que é todo misericórdia. Ensina-nos a investir toda a nossa vida “n’Aquele que nunca passa”, e no que realmente importa, Deus. A luta contra todas as forças do mal ainda está a decorrer. Esta Carmelita Descalça é conhecida por muitos como “Padroeira da Paz” para a Terra Santa, é para nós um estímulo a deixar-se transfigurar pelo Senhor a fim de nos convertermos a nós mesmos em artesãos desta transfiguração do mundo pela graça de Deus. Testemunho de um mundo já transfigurado, Miriam conduz-nos a esse primeiro dia da Criação, onde o Céu e a Terra ainda não foram separados, onde só há luz e trevas, esse dia Um, reflexo da Unidade divina, donde tudo resplandece desta Unidade. Miriam sente-se atraída de modo particular pelo Espírito Santo, este Espírito que pairava sobre as águas no princípio da Criação. É este Espírito Santo que ela nos quer entregar como herança, já que quando Ele vem tomar o lugar do nosso “eu” transfigura cada coisa, “cria de novo” (Isaías), “Dirigi-vos ao Espírito Santo que inspira tudo”. “Perde o ‘eu’ aquele que perde o mundo. Os que têm o “eu” carregam a tristeza e a angústia com eles. Não se pode ter Deus e o mundo ao mesmo tempo. Aquele que não tem o “eu” tem todas as virtudes, a paz e a alegria”. Mas com o Espírito Santo, mesmo com “uma gota” só, tudo é possível: “Fonte de paz, de luz, vem iluminar-me; eu sou ignorante, vem ensinar-me… Os discípulos eram muito ignorantes, eles estavam com Jesus e não O compreendiam… Quando lhe deste o raio de luz, os discípulos desapareceram, já não eram como foram, a sua força foi renovada… Espírito Santo, Eu abandono-me a Vós.” |
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Espírito Santo |
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Espírito Santo, inspirai-me. Amor de Deus, consumi-me. Ao verdadeiro caminho, conduzi-me. Maria, Minha Mãe, olhai por mim, Com Jesus, bendizei-me; De todo mal, de toda a ilusão, De todo o perigo, protegei-me. |
Santa Maria Madalena de Pazzi
Memória a 25 de Maio
Decorria o ano de 1566, quando na cidade de Florença, Itália, na nobre família dos Pazzi, nasceu uma menina a quem seus pais puseram o nome de Catarina que muito cedo se viu marcada pela presença de Deus. A infância, adolescência e juventude nunca lhe desviaram o olhar de Jesus. Gostava imenso de rezar e de reunir no seu palácio meninos e meninas a quem falava de Jesus e a quem distribuía comida, brinquedos, roupas e guloseimas. Desde muito nova se sentia atraída pelo ministério da Paixão de Jesus. Quando aos 17 anos lhe falaram em casamento, Catarina respondeu que o seu único esposo era Cristo. Entrou, por isso, no convento das Carmelitas onde tomou o hábito de Nossa Senhora do Carmo, mudando então o nome de Catarina para Maria Madalena, pois dizia querer amar tanto a Jesus como esta Santa do Evangelho. O seu lema e o seu testemunho era: «O Amor não é amado». Por isso se entregou ao Amado em doação total. A sua vida foi marcada pela Cruz e pela Luz, pela Noite Escura e tenebrosa e pela Chama Viva de Amor resplandecente, pelo sofrimento e pela mais doce e profunda alegria que na terra se pode experimentar. Viveu intensamente o mistério da Cruz de Cristo como intensamente viveu na terra a felicidade dos santos do Céu. Desejava ir a terras de missão para a todos falar de Cristo e todos converter ao seu Amor. Andava sempre na presença de Deus, de tal modo que uma freira do seu convento, e quando Ir. Maria Madalena cozia o pão, afirmou ver o Menino Jesus ajudando nos preparativos e iluminando o forno para que a Santa pudesse colocar o pão. No dia 25 de Maio de 1607, sexta-feira, voou para o Céu esta carmelita, enquanto a seu pedido as irmãs cantavam cânticos de louvor ao Senhor. |
Santa Teresa de Jesus
Solenidade a 15 de Outubro
Teresa de Ahumada nasceu no dia 28 de Março de 1515. De entre os seus 11 irmãos, Teresa evidenciou ser a mais inteligente e agradável no trato, daí a mais querida de seus pais.
Desde criança se imprimiu no seu espírito um forte desejo do Céu e da eternidade. Com apenas 13 anos perdeu a mãe. A partir daí foi junto de uma imagem de Nossa Senhora, na sua igreja paroquial, pedindo-lhe que fosse a sua mãe. Ao entrar na adolescência e juventude, órfã de mãe, Teresa sente-se um pouco desorientada e, com os seus primos, perde-se em futilidades e vaidades próprias da idade, inspiradas pelos romances que adorava ler. O seu pai viu-se obrigado a interná-la no Colégio de Irmãs de Nossa Senhora da Graça. Uma jovem freira da comunidade, de quem Teresa se tornou amiga, foi a sua então educadora e ajudou-a a redescobrir os grandes valores humanos e cristãos. Começou a pensar na possibilidade de vir a ser também ela religiosa, e decidiu entrar no convento de Nossa Senhora da Encarnação, das carmelitas, onde já se encontrava uma das sumas amigas, Joana Soares. O seu pai não esteve de acordo, mas Teresa insistiu e ingressou neste convento de clausura, embora lhe custasse muito separar-se da casa paterna. Depois da Profissão Religiosa, foi atingida por uma estranha e grave doença que a levou às portas da morte, ao ponto de se ter preparado a sepultura no cemitério do convento. O seu pai não desiste e acredita na recuperação de Teresa, encomenda-a a S. José e, passados quatro dias, sai dum coma profundo. Desde então, tornou-se grande devota de S. José, devoção que depois legou a todo o carmelo reformado. Teresa conheceu os segredos de Deus que lhe eram transmitidos pela oração. Recorreu aos melhores teólogos do seu tempo para que a ajudassem no seu itinerário orante e contemplativo. Entre os quais encontra-se S. João da Cruz, S. Francisco de Borja, S. Pedro de Alcântara, S. João de Ávila e outros de grande fama no seu tempo. Um dia ouviu a voz do Senhor que lhe dizia: «Já não quero que tenhas conversas com homens, mas com anjos». Deus revelou-lhe verdades e incutiu-lhe grandes desejos de santidade e de serviço à Igreja. Quando a Igreja, por causa dos protestantes, proibiu as edições da Bíblia em língua que não fosse o latim, Teresa sentiu muita pena e ouviu Cristo que lhe disse: «Não te preocupes. Eu serei o teu livro vivo». Por esta altura, sentiu o impulso que a inspirava a renovar a Ordem do Carmo. Assim, passando por muitos sofrimentos e sempre com a ajuda de Deus, fundou o primeiro convento, o de S. José de Ávila, da nova família das carmelitas descalças. Nas obras do seu primeiro convento, muito a ajudaram amigos e familiares. Foi inaugurado a 24 de Agosto de 1562, dia em que Teresa se descalçou, mudou de hábito e começou a chamar-se Teresa de Jesus. Em 1571, foi nomeada pelos superiores, prioresa da comunidade onde havia estado, a do Convento da Encarnação. Começou o seu mandato colocando as chaves do convento nas mãos duma imagem de Nossa Senhora do Carmo, a quem colocou na cadeira priorial, e Teresa a seus pés. Assim conquistou a simpatia da comunidade de quase 200 freiras, até então enfurecida com as suas aventuras. É aqui, neste mesmo lugar, que um dia ouviu o Senhor dizer-lhe: «Teresa, se não tivesse criado o Céu, para ti e por tua causa o criaria agora». Ao todo, fundou dezassete conventos. O último foi o de Burgos. O Inverno estava áspero e a saúde de Teresa muito débil. Mas no meio das maiores dificuldades, erigiu o último convento. Regressada a Ávila, mandaram-na para Alba de Tormes onde caiu de cama dizendo: «Não me lembro de me ter deitado tão cedo desde há muitos, muitos anos». Não se levantou mais. Nas suas últimas palavras de despedida disse: «Perdoem-me os maus exemplos que viram em mim, que sou má freira. Guardem a Regra e as Constituições, e não é preciso mais para as canonizar». Perguntaram-lhe se, morrendo queria ser enterrada em Ávila, ao que respondeu perguntando: «Mas aqui não terão um pouco de terra que me emprestem até ao dia do Juízo?». E morreu, exclamando: «Por fim, Senhor, morro filha da Igreja!». Eram nove horas da noite do dia 4 de Outubro de 1582. Nesse ano, o calendário foi actualizado pelo que o dia seguinte seria o 15 de Outubro. Teresa de Jesus foi uma mulher extremamente alegre, humilde e agradecida. A frei João da Miséria que a pintou num quadro, respondeu: «Deus te perdoe, Frei João, que me pintaste feia e enrugada!». Era de grande simpatia e afabilidade no trato com todos. Relacionava-se com Deus como com Amigo. Pela sua experiência, vida e escritos tornou-se Mestra e Doutora da Igreja sobretudo pelos ensinamentos em matéria de oração. Deixou-nos preciosos livros espirituais, tais como: Livro da Vida, Caminho de Perfeição, Moradas ou Castelo Interior, Livro das Fundações, Poesias, Exclamações, e mais de 500 cartas. O seu conteúdo espiritual e intuições teológicas são de tal maneira profundos que a Igreja a declarou Doutora da Igreja. |
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TERESA DE JESUS ENSINA-NOS A ORAR |
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«E outra coisa não é, a meu parecer, oração mental, senão tratar de amizade – estando muitas vezes tratando a sós – com quem sabemos que nos ama.
E se ainda O não amais (porque para que seja verdadeiro o amor e para que dure a amizade hão-de encontrar-se as condições: a do Senhor já se sabe, não falta; a nossa é ser pobre, sensual, ingrata), não podeis por vós mesmas chegar a amá-l’O, porque não é da vossa condição; mas, vendo o muito que vos vai em ter a Sua amizade e o muito que vos ama, passais por esta pena de estar muito com Quem é tão diferente de vós. Oh bondade infinita do meu Deus, que me parece que Vos vejo e me vejo desta sorte! Oh regalo dos anjos, que toda eu, quando Vos vejo, me quereria desfazer em amar-Vos! Quão certo é sofrerdes Vós a quem não sofre que Vós estejais com ele! Tenho visto isto claramente por mim, e não compreendo, Criador meu, por que é que todos os homens não procuram aproximar-se de Vós por meio desta particular amizade que é a oração». |
Santa Teresa de Jesus dos Andes
MF a 13 de Julho
A jovem que hoje a Igreja glorifica com o titulo de Santa é um profeta de Deus para os homens e mulheres do nosso tempo. Teresa de Jesus dos Andes põe-nos diante dos olhos o testemunho vivo do Evangelho, encarnado até às últimas exigências na sua própria vida.
Ela é, para a humanidade, prova indiscutível de que a chamada de Cristo à santidade é actual, possível e verdadeira. Ela ergue-se diante de nós para demonstrar que a radicalidade do seguimento de Cristo é o único que vale a pena e o único capaz de fazer-nos felizes. Teresa dos Andes, com a eloquência duma vida intensamente vivida, confirma-nos que Deus existe, que Deus é amor e alegria, que é a nossa plenitude. Nasceu em Santiago do Chile a 13 de Julho de 1900. No Baptismo foi-lhe dado o nome de Joana Henriqueta Josefina dos Sagrados Corações Fernández Solar. Familiarmente era conhecida, e é-o ainda hoje, pelo nome de Juanita. Viveu uma infância normal no seio da família: os pais, Miguel Fernández e Lucia Solar; três irmãos e duas irmãs; o avô materno, tios, tias e primos. A família gozava de boa posição económica e guardava fielmente a fé cristã que vivia com sinceridade e constância. Joana recebeu a sua formação escolar no colégio das Irmãs francesas do Sagrado Coração. Uma curta e intensa história passada entre a família e o colégio. Aos catorze anos, movida por Deus, já ela se decidiu a consagrar-se a Ele como religiosa, em concreto, como carmelita descalça. Este seu desejo veio a realizar-se a 7 de Maio de 1919, quando entrou no pequeno mosteiro do Espírito Santo na povoação de Los Andes, a cerca de 90 kms de Santiago. Vestiu o hábito de carmelita no dia 14 de Outubro desse mesmo ano, iniciando assim o noviciado com o nome de Teresa de Jesus. Tinha intuído, havia muito, que morreria jovem. Melhor, o Senhor tinha-lho revelado, como comunicou ao confessor um mês antes da sua partida para Ele. Assumiu este anúncio com alegria, serenidade e confiança, certa de que na eternidade continuaria a sua missão de fazer conhecer e amar a Deus. Após muitas tribulações interiores e indizíveis padecimentos fisicos, causados por um violento ataque de tifo que lhe consumiu a vida, passou deste mundo para o Pai no entardecer do dia 12 de Abril de 1920. Tinha recebido com sumo fervor os santos sacramentos da Igreja e no dia 7 de Abril fez a profissão religiosa em artigo de morte. Faltavam-lhe ainda três meses para completar os 20 anos de idade e 6 para terminar o noviciado canónico e poder emitir juridicamente os votos religiosos. Morreu, portanto, sendo noviça carmelita descalça. Esta é a trajectória externa desta jovem chilena de Santiago. Desconcerta e desperta em nós uma grande interrogação: Mas, que fez ela de importante? Para tal pergunta, uma resposta igualmente desconcertante: viver, crer, amar. Quando os discípulos perguntaram a Jesus sobre o que deviam fazer para cumprir as obras de Deus, Ele respondeu: ” A obra de Deus é que acrediteis n’Aquele que Ele enviou ” (Jo. 6, 28-29). Portanto, para aperceber-nos do valor da vida de “Juanita”, é necessário assomar-nos ao seu interior, ali onde o Reino de Deus está. Ela abriu-se à vida da graça desde mui tenra idade. E ela mesma que nos assegura que aos 6 anos, movida pelo Senhor, conseguiu centrar n’Ele toda a riqueza da sua afectividade. “Quando se deu o terramoto de 1906, pouco depois, Jesus começou a apoderar-se do meu coração” (Diario, n. 3, p. 26). Juanita aliava uma enorme capacidade de amar e de ser amada a uma extraordinária inteligência. Deus fê-la experimentar a sua presença, cativou-a dando-se-lhe a conhecer e fê-la totalmente d’Ele, unindo-a ao sacrifício da cruz. Conhecendo-O, amou-O; e amando-O, entregou-se radicalmente a Ele. Tinha compreendido, já desde pequena, que o amor se mostra mais com obras que com palavras. Por isso traduziu-o em todos os actos da própria vida, desde a sua motivação mais profunda. Olhou-se a si mesma de frente com olhos sinceros e sábios e compreendeu que, para ser de Deus, era necessário morrer para si mesma e para tudo o que não fosse Ele. Por natureza era totalmente adversa às exigências do Evangelho: orgulhosa, egoísta, teimosa, com todos os defeitos que isto supõe. Como nos acontece a todos. Mas o que ela fez de diferente foi não esmorecer nunca na luta encarniçada contra todo o impulso não nascido do amor. Aos 10 anos era uma nova pessoa. Motivava-a o sacramento da Eucaristia que ia receber. Compreendeu que era Deus que ia morar dentro dela; e isso fê-la empenhar todo o esforço em ornar-se das virtudes que a fizessem menos indigna desta graça e conseguiu, em pouquíssimo tempo, transformar por completo o seu carácter. Na celebração deste Sacramento recebeu de Deus graças místicas de falas interiores que persistiram ao longo de toda a vida. Desde então, a inclinação natural para Deus transformou-se nela em amizade, em vida de oração. Quatro anos mais tarde recebeu interiormente a revelação que iria orientar definitivamente toda a sua vida: Jesus Cristo disse-lhe que a queria carmelita e que a sua meta tinha de ser a santidade. Com abundante graça de Deus e a generosidade duma jovem apaixonada, entregou-se à oração, à aquisição das virtudes e à prática da vida segundo o Evangelho, de tal modo que em breves anos foi elevada a alto grau de união com Deus. Cristo foi o seu ideal, o seu único ideal. Enamorou-se d’Ele e foi consequente até crucificar-se em cada momento por Ele. Invadiu-a O amor esponsal e, por isso, o desejo de unir-se plenamente a Quem a havia cativado. Assim, aos 15 anos fez voto de virgindade por nove dias, que renovou depois continuamente. A santidade da sua vida resplandeceu nos actos ordinários de cada dia em qualquer ambiente onde viveu: a família, o colégio, as amigas, os vizinhos com quem passava parte das suas férias e a quem, com zelo apostólico, catequizou e ajudou. Sendo jovem igual a todas as suas amigas, estas reconheciam-na diferente. Tomaram-na por modelo, apoio e conselheira. Juanita sofreu e gozou intensamente em Deus as penas e alegrias comuns a todas as pessoas. Jovial, alegre, simpática, atraente, desportista, comunicativa. Adolescente ainda, alcançou perfeito equilíbrio psicológico e espiritual, como fruto de ascese e oração. A serenidade do seu rosto era o reflexo do Deus que nela vivia. A sua vida no convento, de 7 de Maio de 1919 até à morte, foi o último degrau da sua ascensão ao cume da santidade. Nada mais que onze meses bastaram para consumar uma vida totalmente cristificada. Bem depressa a Comunidade descobriu nela a passagem de Deus na sua própria história. No estilo de vida carmelitano-teresiano, a jovem encontrou plenamente o espaço por onde derramar, com a maior eficácia, a torrente de vida que ela queria oferecer à Igreja de Cristo. Era o mesmo estilo de vida que, a seu modo, vivera na família e a que se sentia chamada. A Ordem da Virgem Maria do Monte Carmelo culminou os desejos de Juanita ao comprovar que a Mãe de Deus, a quem amou desde pequena, a tinha atraído para pertencer-lhe. Foi beatificada em Santiago do Chile por Sua Santidade o Papa João Paulo II, no dia 3 de Abril de 1987. Os seus restos são venerados no Santuário de Auco-Rinconada dos Andes por milhares de peregrinos que buscam e encontram nela a consolação, a luz, e o caminho recto para Deus. Santa Teresa de Jesus nos Andres é a primeira Santa chilena, a primeira Santa carmelita descalça de além fronteiras da Europa e a quarta Santa Teresa do Carmelo, depois das Santas Teresas de Avila, de Florença e de Lisieux. |
Santa Teresa Margarida do Coração de Jesus
Memória a 1 de Setembro
A Irmã Teresa Margarida nasceu no dia 15 de Julho de 1747, na vila dos nobres de Redi, perto de Arezzo, Itália. Puseram-lhe o nome de Ana Maria. Desde muito pequenina, gostava de colher flores para as oferecer a Jesus. Na adolescência, procurava exercitar cada dia uma virtude. Na juventude, adorava rezar diante do sacrário, onde dizia palpitar não só o Amor, mas o Coração do Amor. Tinha 17 anos quando pensou ouvir uma voz que lhe dizia: «Sou Teresa de Jesus e quero-te entre as minhas filhas». Foi o seu chamamento ao Carmelo, à «Casa dos Anjos», como gostava de chamar aos conventos de carmelitas, assim como Santa Teresa de Jesus lhes chamava «pombais de Nossa Senhora». Ana Maria, como lírio imaculado, procurava os vales sorridentes do Carmo, onde entrou com 17 anos, no dia 1 de Setembro. No período de Postulando quis Deus conceder-lhe uma doença provocada por um tumor maligno que a fez sofrer muito. Uma vez restabelecida, iniciou o Noviciado, tomando o hábito do Carmo e mudando o seu nome pelo de Teresa Margarida do Coração de Jesus. O mistério da Cruz e os espinhos que rodeavam o Coração de Cristo atraíam-na fazendo-a humilde, alegre e caridosa. No dizer das Irmãs, era um anjo do Céu no convento, em Florença. O seu lema era: «Padecer e calar por Jesus». No dia 4 de Março de 1770, pediu ao confessor que a ouvisse em confissão geral, pois queria, no dia seguinte, comungar tão preparada como se fosse a última vez. Assim foi, de facto; nesse dia, 5 de Março, depois de comungar fervorosamente, caiu doente. A doença degenerou em gangrena que lhe provocava dores horríveis e insuportáveis. O Crucifixo, que sempre teve nas mãos foi a sua força. Morreu, dois dias depois da doença se ter declarado, tinha pouco mais de vinte e dois anos. Um século antes, outra carmelita, S. Maria Madalena de Pazzi, tinha glorificado Florença com a sua santidade. Teresa Margarida encontrou na meditação da Paixão de Cristo e no seu Coração o segredo da sua pureza, simplicidade, amor e caridade. Foi beatificada a 9 de Junho de 1929 e canonizada a 13 de Março de 1934 por Pio XI. |
Santa Teresinha do Menino Jesus
Festa a 1 de Outubro
Teresinha nasceu no seio de uma família profundamente cristã. Os seus pais foram um casal ideal: o pai relojoeiro, a mãe bordadeira do famoso ponto de Alençon. As suas quatro irmãs abraçaram a Vida Religiosa. Três foram carmelitas no mesmo Carmelo de Lisieux, onde viveu Teresinha os seus jovens anos. Teresinha era a irmã mais nova (1873-1897). As suas quatro irmãs tiveram a sorte de a ver nos altares canonizada por Pio XI em 1925. Alguma delas terá também a sorte de ver como se inicia a causa da canonização dos seus pais. Da vida de Teresinha conhecemos quase tudo: a sua vida em família, porque ela a contou deliciosamente na primeira parte do livro «História de uma Alma». A sua vida no Carmelo, desde os 16 aos 24 anos, porque foi meticulosamente investigada e testemunhada nos processos da beatificação e canonização, hoje publicados. Conhecemos também a sua constante “presença” entre os homens depois da morte, porque Teresinha prometeu «passar o Céu a fazer o bem sobre a terra» e tem cumprido sua palavra em proporções fabulosas. Os factos mais destacados da sua vida em família são: o seu despertar precoce: «desde a idade de três anos, comecei a não negar nada a Deus de tudo o que me pedia»; a morte de sua mãe, quando Teresinha tinha apenas quatro anos (recordada e contada por ela em pormenor); a mudança da família de Alençon para Lisieux (aos quatro anos); o grande acontecimento da sua primeira comunhão (aos onze anos); a doença de Teresinha (aos dez anos) curada prodigiosamente pelo sorriso da Virgem Maria e o drama da sua vocação para o Carmelo, que a fará recorrer pessoalmente ao Papa Leão XIII para vencer os últimos obstáculos e entrar no Carmelo aos quinze anos. Por esta altura já ela tinha vivido a graça de uma profunda conversão pessoal, e descoberto o poder da oração e sua profunda vocação orante, que coincide com o julgamento do criminoso Pranzini. No Carmelo, Teresinha era feliz. Porém com a bem-aventurança dos que sofrem. Na clausura assiste de coração destroçado à doença de seu pai que tem de ser internado num hospital psiquiátrico. Ela propõe a si mesma fidelidade absoluta à vida carmelita e fá-lo desde o primeiro momento. Alimenta-se espiritualmente com os escritos de S.João da Cruz. Faz a sua Profissão Religiosa depois de longa espera e muitos atrasos, quando completou dezassete anos. Para além dos votos religiosos, e de forma muito secreta, faz a sua entrega total; é uma oração delicada e atrevida, escrita num simples bocado de papel, mas que chegou até nós. Ao fim de pouco tempo passa a ser ajudante da mestra de noviças. Sem título. Mas rapidamente se torna uma verdadeira mestra espiritual. Cuida das almas como se fossem autênticas jóias. Alterna os trabalhos mais humildes com a tarefa espontânea de escrever poemas. Pinta quadros. Redige com a maior intimidade a primeira parte da Historia de uma Alma, como um pequeno ramalhete de recordações familiares para a sua irmã Paulina. Inesperadamente, chega-lhe a oferta de um irmão sacerdote. E logo outro. Dois jovens que depois das ordenações partem para as missões. E que durante a sua vida se apoiaram nas orações da Teresinha. «Orar pelos sacerdotes missionários» será uma segunda missão da sua vida de carmelita. Na noite de Quinta-Feira para Sexta-Feira Santa de 1896, Teresinha tem a sua primeira hemoptise, triste porta de entrada para a sua doença. Pouco depois, entra na noite da fé, terrível prova purificadora que a acompanhará até à morte. Gravemente doente, escreve as duas últimas partes de Historia de uma Alma, cujas páginas finais têm de ser escritas a lápis por já não segurar a caneta. Pouco antes de entrar na «noite», Teresinha escreveu para si uma oração com sentido sacrificial, como se fosse ofertório da sua vida: é o «Acto de oferta ao amor misericordioso de Deus». Os longos meses de enfermidade foram de um enorme exemplo e riqueza espiritual. O seu quarto converteu-se pouco a pouco numa sala de aulas de teologia espiritual e de santidade. Por fim, as irmãs que a assistem mais de perto decidem apontar em vários cadernos as diferentes etapas da sua doença, palavras e reacções, tais como «a paixão e morte de Teresinha» (será sob este título que, meio século depois, um teólogo analisará aquelas vivências). Essas pérolas possuimo-las hoje num precioso livro com o título Ultimas Conversações. Teresinha morreu a 30 de Setembro de 1897, aos 24 anos de idade. Só um ano depois se publicou timidamente História de um Alma, que rapidamente se difundiu no mundo inteiro em milhões e milhões de exemplares, e em tantas línguas como nunca acontecera com livro algum, quer de literatura, quer de espiritualidade. Comparável unicamente à difusão da Bíblia. O grande contributo e o grande acontecimento de Teresinha foi o seu caminho de infância espiritual: versão viva e límpida do Evangelho de Jesus, vivido com toda a sensibilidade e radicalidade. Nele reafirma o valor e a fecundidade do amor. O valor das pequenas acções. A confiança sem limites. A fé na acção e na graça de Deus. Para ela,«tudo é graça». As suas parábolas predilectas, semelhantes às de Jesus, são: o elevador, a bola-brinquedo, a florzinha desprendida do muro… Teresinha acredita na força da oração. De jovem, aos 14 anos, reza com toda a sua alma pelo desgraçado Pranzini. Mais tarde, de carmelita, ora e oferece a sua vida pelos sacerdotes e missionários, inclusive pelos anónimos e desconhecidos. Descobre que a quinta essência da sua vida contemplativa é desempenhar no coração da Igreja o serviço do amor: «no coração da Igreja, minha mãe, eu serei o amor». Teresinha oferecerá a sua oração eucarística e a sua última comunhão, já no leito de morte, pela conversão de um sacerdote, então tristemente célebre, o ex-padre Jacinto Loison. Os seus pais, Luis e Célia, sobem com ela a glória dos altares no dia 19 de Outubro de 2008, Dia Mundial das Missões, ao serem beatificados. |
Festa a 17 de Setembro
Santo Alberto nasceu em Itália, por volta do ano 1149. Entrou para os cónegos regulares de Santa Cruz, vindo a ser Prior Geral da Congregação. Foi depois bispo de Bobbio e Vercelli. A sua fama de santo tornava-o querido aos olhos dos papas, imperadores, reis, bispos e de todo o povo, que o venerava como santo que tinha o dom de estabelecer a paz entre os desavindos. Por morte do Patriarca de Jerusalém, foram unânimes os bispos, príncipes e o povo, em escolher para bispo de Jerusalém S. Alberto. O Papa teve que insistir muito para que aceitasse este cargo, que mais do que honra, era carga pesada, devido às dificuldades de toda a espécie, em que se encontrava o reino de Jerusalém. Embarcou para a Terra Santa no ano 1205, sendo o seu Patriarca de 1206 a 1214. Chegado à Terra Santa, fixou residência na vertente do Monte Carmelo. Brocardo, então prior dos carmelitas, pediu ao Patriarca Alberto que lhes desse uma norma de vida. De bom grado S. Alberto a escreveu, tornando-se assim no Legislador da nossa Ordem. Por isso, e apesar de não ter sido carmelita, a Ordem do Carmo o representa nas suas imagens vestido de carmelita e com a Regra na mão. Nas suas dificuldades encontrou consolação e coragem junto dos carmelitas, seus amigos, de que foi sempre admirador e protector. A Regra começa assim: «Aos amados filhos que moram perto da fonte de Elias, no Monte do Carmo…» Quando, no dia 14 de Setembro de 1214, presidia em S. João de Acre, aos pés do Carmelo, à procissão da Exaltação da Santa Cruz, foi barbaramente assassinado, morrendo vítima do ódio este santo homem que passou a vida amando e fazendo a paz. |
Solenidade a 14 de Dezembro
João de Yepes nasceu em Fontiveros, perto de Ávila, Espanha. Seu pai, Gonçalo de Yepes, sendo de nobre família, a tudo renunciou para casar Catarina Álvares, uma pobre órfã. João de Yepes nasceu, num lar pobre, mas de muito amor, a sua pobreza depressa se transformou em miséria com a morte do pai. A partir de então, Catarina, peregrinando de terra em terra, de feira em feira, acabou por se fixar em Medina del Campo onde João foi recolhido num orfanato.
Certo homem rico e conceituado fixou-se nas qualidades de João, dando-lhe possibilidades de estudar, ao mesmo tempo que o empregou no hospital de Medina. Dez anos foi o tempo que o jovem João de Yepes passou a tratar de doentes, vítimas de doenças incuráveis, sobretudo a sífilis que era terrivelmente mortal, aqui João conheceu as histórias mais inverosímeis do mundo e as dores mais atrozes dos homens. Na sua juventude foi cobiçado por diversas Ordens Religiosas, e pelo seu benfeitor que pensava nele como capelão do hospital, depois de ordenado sacerdote. Aos 21 anos de idade, sem dizer nada a ninguém, João dirigiu-se ao Convento dos Carmelitas onde tomou o hábito e onde nesse dia recebeu o nome de Frei João de S. Matias. Estudou em Salamanca e cantou Missa em Medina del Campo. Foi aqui que no ano de 1567 conheceu a Madre Teresa de Jesus, que ficou prendada com as suas qualidades e santidade o convida para primeiro Carmelita Descalço e fundador de entre os frades do novo estilo de vida que ela mesma havia iniciado entre as freiras. No Verão de 1568, vestindo já o primeiro hábito de Carmelita Descalço, feito precisamente pela Madre Teresa de Jesus, dirigiu-se a Duruelo onde, durante todo o Verão, foi preparando e transformando uma velha e pobre casa no primeiro convento da nova família do Carmo. No dia 28 de Novembro desse ano, primeiro Domingo do Advento, chegaram Frei António de Jesus e Frei José de Cristo que deram oficialmente início à nossa Ordem. A partir deste dia, Frei João de S. Matias passou a chamar-se Frei João da Cruz. Quando S. Teresa de Jesus foi nomeada priora do convento da Encarnação, em Ávila, pediu a S. João da Cruz que se dirigisse para esta cidade como confessor das freiras deste convento. Aqui permaneceu o nosso Santo durante cinco anos. As pessoas tinham-no por Santo, respeitando-o e amando-o como tal. Foi tentado por uma nobre e formosa mulher de quem nunca revelou o nome. Nesta cidade Frei João pintou o seu célebre desenho de Cristo na Cruz, onde o famoso pintor Dali se inspirou para a sua célebre pintura de Cristo morto sobre o mundo à qual intitulou «Cristo de S. João da Cruz». Frei João da Cruz realizou em Ávila, verdadeiros prodígios, o que levou os abulenses a terem por ele verdadeira admiração e profundo respeito. Os Carmelitas Calçados de Ávila é que não estavam nada contentes com a boa fama e o apreço que o povo tinha por Frei João da Cruz e pelos frades da nova família de Carmelitas, chamada dos Descalços, por ele fundada. Decidiram, por fim, pôr cobro à situação. E a melhor forma que encontraram foi a de prender a alma do Carmo Descalço, Frei João da Cruz. Assim o pensaram e assim o fizeram uma noite, saltaram silenciosamente o muro da casa onde vivia, arrombaram as portas e prenderam Frei João. Levaram-no em segredo para o convento de Toledo. Ninguém teve tempo para reagir, tudo foi feito em grande sigilo e com tanta rapidez e discrição que ninguém pôde intervir. S. Teresa escreveu ao rei Filipe II, mas como ninguém sabia de nada, Frei João continuara na prisão. Os Calçados tentaram fazer por todos os meios, lícitos e ilícitos, que Frei João abandonasse a obra começada. Torturas físicas e psicológicas, belas ofertas, de poder e de riqueza, até mesmo uma cruz de ouro cravejada de pedras preciosas! Ao que Frei João respondeu: «Quem procura seguir a Cristo pobre, não precisa de jóias nem de ouro». Finalmente seguro! Os Calçados procuram-no, batem às portas do Convento das Descalças mas não encontram Frei João aí bem escondido, toda a tarde as Carmelitas conversaram com o Santo, escutando enlevadas os poemas que tinha escrito na prisão. Entretanto, as Carmelitas pedem ajuda ao administrador do Hospital que levaram Frei João para sua casa, que ficava mesmo ao lado do convento onde tinha estado preso, tudo foi feito durante dois meses para o restabelecer. Em Outubro de 1578 Frei João deixou Toledo e dirigiu-se a Almodôvar onde esteve reunido o Capítulo de Lisboa. Aqui, pela primeira vez, contemplou, S. João da Cruz o mar, que o encantou e atraiu profundamente. Quantos o conheceram em Lisboa ficaram encantados e lhe chamavam Santo. Chegou a La Peñuela e prontamente se dedicou aos seus escritos. Mas uma perna se lhe inflamou a tal ponto que a febre se recusou deixá-lo. Era a cruz preparada para o final do caminho que o devia conduzir, não ao México, mas, como ele próprio disse «a outras Índias melhores e mais ricas de tesouros eternos». De La Peñuela levam-no para Úbeda. O carinho e a alegria com que em Úbeda foi recebido pelos frades da comunidade e pelos leigos que conheciam o Santo era indescritível. O único que destoou foi Frei Francisco Crisóstomo, o prior, que aproveitava todas as ocasiões para o fazer sofrer, vingando-se, assim, de Frei João que noutros tempos o tinha repreendido. No dia 7 de Dezembro soube que morreria a 14, por ser Sábado, dia de Nossa Senhora. Durante o dia 13 perguntou insistentemente as horas, dizendo que nesse dia lhe tinha mandado Deus ir cantar Matinas ao Céu. Antes da meia noite, querem os irmãos rezar-lhe as orações dos agonizantes, mas Frei João diz que não faz falta e pede que lhe leiam o Cântico dos Cânticos. Aos primeiros versículos Frei João comenta: «ó que preciosas margaridas tem o céu!» À meia noite, ouvindo o sino exclama: «Vou cantar Matinas para o Céu» e adormeceu dizendo: «Nas Tuas mãos Senhor entrego o meu espírito». |
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Oração da alma enamorada |
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Senhor Deus, amado meu! Se ainda Te recordas dos meus pecados, para não fazeres o que ando pedindo, faz neles, Deus meu, a tua vontade, pois é o que mais quero, e exerce neles a tua bondade e misericórdia e serás neles conhecido. E, se esperas por obras minhas, para, por meio delas, me concederes o que te rogo, dá-as Tu, e opera-as Tu por mim, assim como as penas que quiseres aceitar e faça-se. Mas se pelas minhas obras não esperas, porque esperas, clementíssimo Senhor meu? Porque tardas? Porque, se, enfim, há-de ser graça e misericórdia o que em teu Filho te peço, toma a minha insignificância, pois a queres, e dá-me este bem, pois que Tu também o queres. Quem se poderá libertar dos modos e termos baixos se não o levantas Tu a Ti em pureza de amor, Deus meu? Como se levantará a Ti o homem gerado e criado em baixezas, se não o levantas Tu, Senhor, com a mão com que o fizeste? Não me tirarás, Deus meu, o que uma vez me deste em teu único Filho Jesus Cristo, em quem me deste tudo quanto quero. Por isso folgarei pois não tardarás, se eu espero. Com que dilações esperas, pois, se desde já podes amar a Deus em teu coração?Meus são os céus e minha é a terra; minhas são as gentes, os justos são meus, e meus os pecadores; os anjos são meus e a Mãe de Deus e todas as coisas são minhas; e o mesmo Deus é meu e para mim, porque Cristo é meu e todo para mim. Que pedes pois e buscas, alma minha? Tudo isto é teu e tudo para ti. Não te rebaixes nem repares nas migalhas que caem da mesa de teu Pai. Sai para fora de ti e gloria-te da tua glória, esconde-te nela e goza, e alcançarás as petições do teu coração.Ditos de Luz I, 25-27 S. João da Cruz in As mais belas páginas de S. João da Cruz p. 176,177 |
Nuno Alvares Pereira nasceu em 1360, tendo falecido em 1431. Filho de D. Álvaro Gonçalves Pereira, entrou aos 13 anos na corte de D. Fernando (rei de 1367 a 1383) como pajem da rainha D. Leonor de Teles. Destacando-se logo em jovem num ataque dos castelhanos a Lisboa, foi armado cavaleiro. Aspirava à vida virginal, mas as necessidades do mundo impuseram-lhe que se casasse a 15 de Agosto de 1376 com uma viúva, D. Leonor de Alvim, de quem teve a sua filha D. Beatriz. A morte do rei criou a perigosa crise dinástica, com a possibilidade da coroação de D. João de Castela (rei de 1379 a 1390) como rei de Portugal. Um partido nacionalista reuniu-se à volta do mestre da Ordem de Avis, D. João, irmão do rei D. Fernando, que o povo de Lisboa elevou a regedor e defensor do reino. D. Nuno é chamado pelo Mestre para o Conselho de Governo. Em breve lhe foi entregue o perigoso cargo de fronteiro de entre Tejo e Guadiana, por onde passariam as operações militares decisivas. Usando tácticas inspiradas nas britânicas da Guerra dos Cem Anos, o fronteiro venceu os Castelhanos a 6 de Abril de 1384, em Atoleiros. Na batalha, Nuno Álvares Pereira conseguiu, com um bando de camponeses, derrotar um forte corpo de cavalaria castelhana. Esse facto influiu no desfecho da guerra, porque mostrou a possibilidade de uma resistência apoiada nas forças populares. A partir da vitória dos Atoleiros, Nuno Álvares, que tinha sido recebido com grande desconfiança pelos Alentejanos, transformou-se num herói popular e conseguiu mobilizar toda a força da revolta camponesa para a defesa da causa do Mestre de Avis. Precisamente um ano depois, este foi aclamado rei D. João I (rei de 1385 a 1433) em Coimbra e no dia seguinte D. Nuno foi nomeado o Condestável do Reino. Conquistou o Minho para a causa e, depois da vitória de Trancoso em Maio ou Junho, cortou a arrojada avançada castelhana com a memorável Batalha de Aljubarrota, a 14 de Agosto de 1385. As forças portuguesas, dispostas em quadrado, aguentaram com firmeza o assalto da cavalaria feudal e infligiram-lhe uma derrota que teve consequências políticas definitivas. A realeza do Mestre e a independência portuguesa foram a partir de então factos irreversíveis. A guerra arrastou-se por alguns anos, limitada a campanhas fronteiriças de pequena envergadura; o mais conhecido episódio é o do combate de Valverde, vencido por Nuno Álvares na região de Mérida. A paz veio a ser assinada em 1411. A seguir à crise de 1383-85, o Condestável ficara dono de quase meio país. Quando se estabeleceu a paz, quis entregar uma parte do que recebera aos que mais o tinham ajudado, fazendo-os seus vassalos. O rei não o permitiu e fez recolher ao património da coroa as terras doadas. Depois negociou o casamento de um seu filho bastardo com a filha única de Nuno Álvares; a imensa fortuna do herói voltou assim ao controlo da coroa e foi origem da Casa de Bragança. Assegurado o reino, Nuno Álvares começou a dedicar-se a outras obras. Mandou construir a Capela de São Jorge de Aljubarrota em Outubro de 1388 e o Convento do Carmo em Lisboa, terminado em Julho de 1389 e onde entraram em 1397 os Frades Carmelitas. Dedicou em Vila Viçosa uma capela à Virgem para a qual mandou vir de Inglaterra uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, que 250 anos depois seria proclamada Rainha de Portugal. A morte da filha, D. Beatriz, em 1414, cortou o último laço com o mundo, e abriu o desejo da clausura. Ainda participou na expedição a Ceuta de 1415, primeiro passo da gesta ultramarina portuguesa, onde o seu valor ficou de novo marcado. Mas em breve olharia para outras fronteiras. Em 1422, distribuiu os títulos e propriedades pelos netos, e a 15 de Agosto de 1423, festa da Assunção, aniversário do seu casamento e dia seguinte ao da Batalha de Aljubarrota, professou no Convento do Carmo. Frei Nuno de Santa Maria foi um humilde frade, que viveu em oração, penitência e caridade, pedindo esmola pelas casas durante mais de sete anos. Morreu na sua pobre cela, rodeado do rei e dos príncipes. Foi beatificado pelo Papa Bento XV a 23 de Janeiro de 1918. Padroeiro secundário do Patriarcado de Lisboa, a sua Memória (Festa na Ordem Carmelita, na Ordem dos Carmelitas Descalços e na Sociedade Missionária da Boa Nova) é liturgicamente assinalada a 6 de Novembro. A 3 de Julho de 2008, Bento XVI autorizou a promulgação de dois decretos que reconhecem um milagre do Beato, abrindo as portas à sua canonização. No dia 26 de Abril de 2009 foi canonizado por Sua Santidade o Papa Bento XVI, em Roma.Cf. João César das Neves, in “Os Santos de Portugal”, Lucerna; José Hermano Saraiva, in “História Concisa de Portugal”, Europa-América. |
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Oração ao Beato Nuno |
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Senhor nosso Deus, que destes ao bem-aventurado Nuno de Santa Maria a graça de combater o bom combate e o tornaste exímio vencedor de si mesmo, concedei aos vossos servos que, dominando como ele as seduções do mundo, com ele vivam para sempre na pátria celeste. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo. Amen. |
Memória a 19 de Novembro
No dia 1 de Setembro de 1835, em Vilna, Polónia, nasceu um menino a quem puseram o nome de José e o apelido de Kalinowski. Perdeu a mãe, com apenas dois meses de idade, vindo a conhecer ainda mais duas, pois seu pai casou três vezes. Às três chamou mãe e amou-as com grande amor. A sua vida e a sua fé desabrocharam à sombra do santuário carmelitano de Nossa Senhora de Ostra-Brama. Nos estudos, foi sempre aluno brilhante e de excelentes notas. Durante a sua juventude alastrou a perseguição czarista, assistindo então o jovem José a inúmeras execuções públicas e a deportações para a Sibéria. Aos 17 anos, aluno brilhante e bem considerado socialmente, José mergulha numa crise vocacional: deveria ter entrado para o seminário, mas não teve coragem. Especializou-se em Agronomia, Zoologia, Química, Apicultura, Línguas estrangeiras e entrou na Academia Militar, donde saiu graduado em tenente. Tenente e engenheiro. A vida sorria-lhe. Aos 24 anos. voltou-se para Deus experimentando a intimidade profunda com Deus através da oração. Foi professor de matemática e Reitor do Colégio onde se tinha formado. E, com apenas 25 anos, foi promovido a Capitão do Estado Maior. Kalinowski dedicava-se, nesta altura, à adolescência e à juventude, orientando grupos de jovens que o admiravam. Em 1863, a Polónia insurge-se contra a Rússia, e Kalinowski foi nomeado Ministro da Defesa da Lituânia, o que aceitou com a contrapartida de não haver condenações à morte. Estabeleceu o fim da insurreição, mas mesmo assim foi preso e condenado à morte, pena que acabaria por ser comutada para prisão perpétua, na Sibéria. Tinha andado afastado de Deus nos últimos tempos, e esta amargura atraiu-o, de novo, para os braços do Pai. Ao confessar-se, mesmo sabendo-se prisioneiro condenado à deportação, sentiu uma paz profunda. Foi então que se deu a sua conversão, como mais tarde viria a reconhecer. No dia 29 de Junho de 1864, depois de se ter despedido dos seus e do Santuário de Nossa Senhora, parte para o desterro com os seus companheiros de infortúnio, consagrando-se então à Virgem Maria. Não se podem descrever os sofrimentos daqueles homens. Muitos ficaram sepultados na neve… Kalinowski era para todos tão bom amigo que lhe chamavam Anjo de Deus, Consolador de todos. Nunca se queixava, por maiores que fossem os tormentos, e estava sempre pronto a esquecer-se de si para ajudar os outros. Os seus companheiros de martírio tinham-no como santo, por isso, rezavam a Deus pedindo no fim das orações, dizendo: «Pela oração de José Kalinowski, livrai-nos, Senhor». Comutaram-lhe a pena, pela segunda vez, para dez anos de degredo. Quando completou os nove, libertaram-no. Tinha aprendido o gosto e o hábito de rezar sempre e em todos os momentos, e de em Deus descansar o seu coração. Dizia então: «Mesmo que o mundo tudo me roube, deixar-me-á sempre um lugar de refúgio: a oração». Aos 39 anos de idade foi escolhido para preceptor do príncipe Augusto Czartoryski. Mas, José Kalinowski continuava tão insatisfeito como aos 17 anos. Um dia, encontrou-se com a princesa Witoldowa, que se tinha feito carmelita. Ela convidou-o a fazer-se carmelita, a fim de ser ele o restaurador da Ordem na Polónia. Foi o acender duma luz divina que trouxe a felicidade e a paz ao coração inquieto daquele homem de 42 anos. Tomou o hábito do Carmo no dia 16 de Julho de 1877, festa da Rainha do Carmo. Passou a chamar-se Frei Rafael de S. José. Nunca sentira maior felicidade, pelo que escreveu: «Bendito seja Deus que me trouxe a habitar debaixo do tecto hospitaleiro dos filhos da Senhora do Carmo». Foi ordenado sacerdote aos 47 anos. Fez tudo para difundir entre os polacos a espiritualidade da Ordem do Carmo: dizia: «Os carmelitas são os filhos primogénitos de Maria». Através dele a Ordem dos Carmelitas Descalços começou a florescer em inúmeras vocações que pediam o hábito. Mais uma vez, frei Rafael de S. José atraía os jovens, como na sua juventude. Em 1907, as suas doenças aumentam assustadoramente, como espelham as suas palavras: «Reze por mim, escreve numa carta, que pareço outro Lázaro». No dia 13 de Novembro, recebeu os últimos sacramentos e deu a bênção aos seus irmãos carmelitas que o rodeavam, enquanto rezava: «Senhor, ficarei saciado quando aparecer a vossa glória». No dia 15, dia da Comemoração dos Defuntos da Ordem, adormeceu no Senhor dizendo: «Muito bem, agora vou descansar!» Tinha 70 anos, trinta como carmelita. Na guerra, no exílio, no convento, quando jovem, quando adulto e homem maduro, a vida de S. Rafael é claro farol que ilumina os nossos dias. O seu túmulo tornou-se lugar de peregrinação onde o papa João Paulo II, seu compatriota que o canonizou, rezou muitas vezes. |
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Leitura das Exortações de S. Rafael de S. José |
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«Nada se recomenda tanto na Sagrada Escritura como a vida perfeita e santa. Já no antigo Testamento, Deus nosso Senhor mandou ao seu povo: «sede santos, porque eu sou santo». Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos foi dado pelo Pai eterno como formador, mestre e guia propôs-nos a imitação da santidade do mesmo Pai: «portanto, sede perfeito como o vosso Pai celeste é perfeito». Pois bem, o que é preciso para chegar a ser santo e perfeito? A isto respondem os doutores da Igreja, guias das almas e mestres do espírito: «se queres ser perfeito e santo cumpre os teus deveres com fidelidade». Certo dia, um padre do deserto respondeu a um jovem que lhe perguntava quais os livros que era preciso ler no caminho da santidade, o seguinte: «eu só conheço dois livros: o Evangelho que leio pela manhã e a Regra que leio à tarde. O Evangelho ensina-me a converter-me em discípulo de nosso Senhor Jesus Cristo; a Regra ensina-me a ser bom religioso. Isto me basta». Apliquemo-nos à leitura das leis de Deus, para ajustarmos a elas a nossa vida. «Quando caminhes, guiar-te-ão; quando descanses, guardar-te-ão; ao acordares falar-te-ão». Essas leis acompanham-nos e orientam os nossos passos. Que elas estejam ao nosso lado durante o sono e nos ocupem o pensamento quando acordamos. A sua voz. reconfortante ressoa convidando-nos a levantarmo-nos. Com elas triunfaremos das nossas indecisões e sacudiremos as resistências da natureza sempre inimiga do esforço e do sacrifício e escravo do prazer. A «Lei da Vida» nos ajudará a superar o medo diante dos perigos e a seguir o caminho da obediência com alegre disponibilidade. Que essa lei nos assista sempre com o seu conselho, para que possamos dar a Deus uma resposta leal com magnanimidade e decisão».ORAÇÃO Ó Deus que destes a S. Rafael de S. José o espírito de fortaleza nas contrariedades da vida e lhe concedestes um extraordinário zelo apostólico e uma caridade profunda, fazendo-o promotor da unidade da Igreja, concedei-nos, por sua intercessão, sermos fortes na fé e constantes no amor fraterno, para assim colaborarmos generosamente na união de todos os fiéis em Cristo. |
Memória a 16 de Maio
Não são muitas as notícias que temos deste nosso Santo. Sabemos que era inglês, que viveu no séc. XIII, que morreu em Bordéus, e que frequentou a Universidade de Oxford onde se doutorou em Teologia. É venerado na Ordem do Carmo pela sua grande santidade e pela sua admirável devoção à Virgem Maria. A sua festa sempre foi celebrada no dia 16 de Maio, como sendo o dia da sua morte. Pensa-se que era natural do condado de Kent e que, muito jovem, optou por uma vida eremítica, vivendo muitos anos na concavidade de um tronco, por isso lhe chamam Stock, que em inglês quer dizer «tronco». A partir do ano 1232, os carmelitas visitaram várias vezes a Inglaterra, até que em 1242, fundam lá o seu primeiro convento. Numa destas visitas Simão conheceu os carmelitas e deixou-se cativar por eles, vindo a pedir o hábito da Ordem. Dirigiu-se para a Terra Santa, com os religiosos, tendo vivido no Monte Carmelo. Quando, em 1242, os carmelitas fundam em Inglaterra, Simão acompanha-os e intervém nas primeiras fundações. Cinco anos mais tarde, a Ordem celebrou o Capítulo Geral em Inglaterra e Frei Simão Stock foi eleito Prior Geral da Europa. A vinda dos carmelitas para a Europa e a sua rápida extensão atraía a si imensos jovens universitários cativados pelo estilo de vida do Carmo desencadeando-se, ao mesmo tempo, uma onda de ciúme e inveja em muitos sectores da Igreja. Párocos, Reitores e Bispos moveram uma guerra surda aos carmelitas «não deixando construir igrejas e obrigando-os a impostos e serviços graves insuportáveis, que nunca tinham tido no Monte Carmelo ou em outros conventos da Terra Santa». Em 1251, Frei Simão Stock convocou um Capítulo Geral pedindo a toda a Ordem que rezasse noite e dia pela resolução do problema. Acudiram ao Céu e ao Papa. S. Simão liderava esta campanha rezando com insistência à Mãe do Carmo para que deles se compadecesse. Um dia em que, como tantas vezes, rezava a oração do «Flos Carmeli», apareceu-lhe a Virgem Maria na sua cela e entregou-lhe o Escapulário dizendo que este símbolo era o sinal da sua protecção para com os carmelitas e para quem a partir de então o usasse. Pensa-se que esta aparição se deu na noite de 15 ou 16 de Julho. Era o ano de 1251. A 13 de Janeiro de 1252, o Papa escreve uma carta aos bispos defendendo os carmelitas. Porém, quatro anos mais tarde, sobrevém novo ataque aos carmelitas e mais perigoso que o primeiro, pois os frades estão divididos: uns querem apenas a vida eremítica tal como se vivia no principio, no Monte do Carmo. Outros, como Frei S. Simão Stock, pretendem uma vida equilibrada e adaptada à Europa: solidão e apostolado, o que exigia a fundação de conventos, não no deserto, mas junto de cidades e universidades. Recorre Frei Simão, Prior Geral, ao Papa que lhe concede razão e protecção. Mais uma vez, em 1264, S. Simão presidiu ao Capítulo Geral em Tolosa, França, vindo a morrer em Bordéus no ano de 1265, onde ainda hoje se guardam os seus restos mortais. |
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Neste dia de Maio, recordando o amor que S. Simão Stock tinha a Nossa Senhora do Carmo, recordemos a oração que rezava este nosso Santo quando lhe apareceu a Mãe do Céu, da Terra e do Carmo, dando-lhe o Escapulário:
Do Carmo a Flor |
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